Conferir uma nova vida aos produtos que sobram da produção de azeite e até desenvolver embalagens possuam algum valor nutricional para a vida marinha são dois aspetos que podem ser aplicados para tornar a indústria do azeite mais sustentável.
O grupo Sovena, conhecido pelo azeite e óleo alimentar, encara a sustentabilidade como um “conceito estratégico com base numa visão de longo prazo”, afirma Paula Allen Lopes, senior quality manager da empresa, por isso, tem apostado em projetos que permitam incentivar a sustentabilidade dos processos da marca.
“O nosso projeto Oil4Health, como o próprio nome indica, era azeite direcionado para a saúde e tinha como objetivo nada a perder e tudo transformar, ou seja, não perder o que são os subprodutos do processo produtivo do azeite e dar-lhes um novo encaminhamento”, explica. Das folhas, do bagaço e das águas do processo, conseguiram extrair compostos importantes para a saúde, com alguns a mostrarem-se benéficos nos processos anti-inflamatórios e outros a mitigarem o envelhecimento da pele. O projeto recebeu o financiamento de quase 785 mil euros através do programa COMPETE 2020, dos quais quase 314 mil euros são do Fundo Europeu de Desenvolvimento Regional (FEDER).
Para continuar a melhorar este processo, a Sovena lidera o projeto HidroX, integrado na agenda VIIAFOOD, apoiada pelo Programa de Recuperação e Resiliência (PRR). A investigação “está a caminhar muitíssimo bem” para desenvolver compostos bioativos que sejam úteis para a indústria cosmética, farmacêutica e alimentar e testar a sua viabilidade de extração a nível industrial.
Também integrado nesta agenda, a Sovena coordena o projeto NEWPACK que procura alternativas ao plástico e quer desenvolver uma embalagem ativa que “com o tempo vai libertando um composto antioxidante natural que está na embalagem e vai combatendo a oxidação do produto”, o que prolonga o tempo de vida útil do produto na prateleira.
“Nós podemos ter um maior desperdício alimentar devido às condições de conservação que não são as indicadas e o produto pode não estar em condições para ser consumido antes do seu prazo de validade ter terminado”, por isso, “estamos a desenvolver tintas inteligentes que vão ser aplicadas na rotulagem e essas tintas inteligentes reagem em condições adversas de temperatura para promover uma sensibilização sobre o cumprimento das condições de conservação”.
Qual era o objetivo do projeto Oil4Health?
O Oil4Health foi um projeto que a Sovena implementou entre 2018 e o início de 2021. Este projeto tinha como grande objetivo estudar o aproveitamento dos subprodutos da extração do azeite e transformar esses subprodutos em novas oportunidades de inovação para contribuir para a transição para uma economia mais circular.
O que desenvolveram neste projeto?
Podemos dar como exemplos de subprodutos do azeite: os bagaços, as águas de processo, as folhas da oliveira e os caroços, estudámos três destes e efetivamente foi desenvolvido um processo à escala laboratorial de extração de compostos bioativos, que estão presentes nos subprodutos, como o bagaço de azeitona, as águas de processo e as folhas de oliveira. Nós desenvolvemos processos de extração e purificação dos extratos à escala laboratorial.
Como superaram a sazonalidade da apanha da azeitona?
A extração do azeite ocorre só durante uma determinada época do ano e está ligada aos momentos em que se faz a colheita da azeitona. Então, nessa altura, existe a disponibilidade desses subprodutos. Portanto, esses subprodutos necessitam de ser conservados e armazenados para a sua posterior utilização. Ou seja, durante o projeto Oil4Health, além de se ter desenvolvido à escala laboratorial um processo de extração e de purificação amigo do ambiente, sem utilização de compostos poluidores, foram também desenvolvidas e estudadas as características de conservação destes subprodutos para que nós os pudéssemos conservar ao longo de todo o ano e pudéssemos obter esses compostos bioativos a partir dos subprodutos durante todo o ano.
Sem este aproveitamento, qual seria o destino dos subprodutos?
Todos os subprodutos têm outras valorizações, por exemplo, no caso das folhas de oliveira são usadas novamente na agricultura, que não são só obtidas aquando do processo de extração do azeite, porque a azeitona é colhida e efetivamente às vezes vêm com troncos e folhas, mas também nos momentos da poda das oliveiras e, portanto, isso já tinha outras utilizações na agricultura. No caso dos bagaços, maioritariamente destina-se ao aproveitamento para a extração de óleo de bagaço de azeitona.
Como transitaram do Oil4Health para o projeto HidroX?
Foi um projeto muito enriquecedor, porque além do desenvolvimento dos processos de extração e de purificação dos compostos bioativos, foram estudadas, embora de forma ainda preliminar, as suas possíveis utilizações e suas possíveis vias de comercialização. Foram feitos testes com parceiros, que neste caso eram o IBET e a Faculdade de Farmácia, para estudar ainda de forma preliminar as capacidades anti-inflamatórias, antidiabéticas, antioxidantes, antienvelhecimento e antimicrobianas dos extratos. No fundo, este conhecimento permitiu basear-nos no lançamento do projeto HidroX, sabendo já que efetivamente os nossos compostos bioativos tinham algum impacto na saúde humana sob diversas formas, e que teria de se estudar a viabilidade destes compostos ou a obtenção destes compostos ao nível industrial para que pudessem ser, no futuro, disponibilizados à sociedade.
Quais são as aplicações dos bioativos dos subprodutos?
Como exemplos das aplicações na área da saúde destes compostos bioativos, estamos a falar de doenças inflamatórias intestinais, dos problemas da diabetes e também de problemas na área dermatológica relacionados com o envelhecimento e com a oxidação da pele. Portanto, não se esgotam aqui as utilizações, mas estas são algumas das principais que podemos referir sobre estes compostos bioativos, que de outro modo não seriam aproveitados.
Quais são alguns dos objetivos do projeto NewPack?
Obter um material plástico que não tenha como origem o petróleo, mas matérias-primas sustentáveis, que não se vão esgotar como alternativa ao PET, que é o material plástico que nós utilizamos hoje e que as pessoas conhecem dos produtos da Sovena. Uma parte está embalada em material plástico PET e outra parte é material vidro. No fundo, queremos que estas fontes renováveis de obtenção de matérias-primas nos permitam também obter um material plástico biodegradável e biocompostável e que assim seja reduzido o seu impacto ambiental.
O segundo grande objetivo relaciona-se com a pressão que existe sobre o planeta com a poluição marinha. Nós pensámos em efetivamente obter um material plástico que não fosse tóxico para a vida marinha, que é um problema que nos assusta a todos, e que além de não ser tóxico, tenha algum valor nutricional para a vida marinha, nomeadamente para os peixes.
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