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“Antigamente o agricultor tinha de ir lá fisicamente”, mas agora há um robô para as vinhas de encosta do Douro

A imprecisão do sinal de GPS nas vinhas do Douro e o terreno irregular dificultam a implementação de sistemas mecânicos e autónomos. Um projeto português criou um robô capaz de manobrar no estreito espaço entre as vinhas e até auxiliar na vindima

Robô ROMOVI
TEKEVER

As vinhas tradicionais do Douro são um símbolo de Portugal, mas a sua manutenção apresenta desafios, o que torna esta região vinícola difícil de mecanizar e automatizar. Para auxiliar os viticultores, um projeto português criou um robô autónomo capaz de superar o terreno acidentado e os declives das vinhas para ajudar nas tarefas agrícolas.

O terreno solto e irregular das vinhas durienses dificulta a implementação de soluções comerciais já existentes no mercado devido ao espaço limitado para manobras. Como tal e atendendo às necessidades dos viticultores, o projeto ROMOVI - Robot Modular e Cooperativo para Vinhas propôs-se a desenvolver um robô robusto, modelar e extensível para atuar nestas condições.

Além do terreno pedregoso, a inclinação das vinhas do Douro cria uma maior reflexão do sinal de GPS, o que significa que “é de pior qualidade” e, consequentemente, é impossível ter uma exatidão da posição, consegue apenas “uma precisão de um ou dois metros”. Por este motivo, era preciso “usar outros métodos de navegação e encontrar formas de desenhar rotas que fossem possíveis de ser utilizadas nesse tipo de terrenos”, explica António Relvas, coordenador do projeto e responsável pela área de investigação e desenvolvimento da empresa TEKEVER.

Para solucionar este problema, desenvolveram um sistema de navegação baseado em outros sistemas além dos recetores de GPS. Semelhante à tecnologia usada nos veículos de condução autónoma, “desenvolvemos alguns algoritmos de inteligência artificial, que através das câmaras, conseguem fazer a navegação” de forma independente. António Relvas realça que “não é só ir em linha reta, o robô vai ajustando a condução entre um ponto e outro ponto” ao reconstituir a paisagem em três dimensões.

“Antigamente, o agricultor tinha de ir fisicamente” à vinha, mas o ROMOVI elimina essa necessidade ao ser capaz de analisar em tempo real a vinha e auxiliar o viticultor a fazer a gestão da rega, da fertilização e até a perceber o estado de maturação da uva. “Quando a videira começa a fazer menos fotossíntese, porque está doente e não consegue absorver os nutrientes, consegue ver-se isso muito rapidamente” com o robô, explica António Relvas. Esta tecnologia de agricultura de precisão “aumenta a produtividade” da vinha, além de diminuir a necessidade de mão-de-obra, que nos últimos anos tem escasseado.

Também a capacidade de carga e a robustez do robô permitem o auxílio durante a vindima. “No Douro, eles andam com os cestos às costas e o robô tem um reboque atrás, que leva dois cestos, e eles podem colocar as uvas dentro desses cestos”, explica o líder do projeto. Devido à capacidade de percecionar o ambiente em redor, este robô consegue ainda seguir o vindimador à medida que este se desloca.

O sistema desenvolvido inclui também a possibilidade de o adaptar consoante as necessidades e incorporar mecanismos para realizar a poda ou pulverizar o terreno. António Relvas destaca ainda que o robô desenvolvido pode ser aplicado noutras áreas além da agricultura. “Nós fizemos uma demonstração deste sistema ao exército já com uma configuração completamente diferente. Era o mesmo robô, mas metemos uma câmara que fazia vigilância e em vez de estar a observar a vinha, foi programado para seguir uma pessoa e repetir o que ela fizesse”, descreve.

O gestor do projeto afirma que a tecnologia de navegação que desenvolveram para este robô foi também transferida para a empresa TEKEVER, conhecida pelos seus drones. “O algoritmo de inteligência artificial e as ideias de navegação que estavam a ser usadas no ROMOVI passaram a ser integradas nos sistemas de navegação dos aviões”, diz.

A ajuda imprescindível dos fundos comunitários

O projeto ROMOVI envolveu um consórcio liderado pela empresa TEKEVER e constituído pelo INESC TEC - Instituto de Engenharia de Sistemas e Computadores, Tecnologia e Ciência e pela Associação para o Desenvolvimento da Viticultura Duriense. Para desenvolver os objetivos recorreram ao programa COMPETE 2020, tendo sido financiados em cerca de um milhão de euros, dos quais quase 700 mil euros são provenientes do Fundo Europeu de Desenvolvimento Regional (FEDER).

O financiamento é sempre positivo”, porque a decisão de as empresas investirem em projetos de investigação é “tipicamente difícil” devido à incerteza de resultados aptos para o mercado. Por este motivo, o apoio financeiro dos fundos comunitários ajuda a “minimizar o impacto” de um investimento que empresa faria sozinha se não fosse esta ajuda.

“Em particular, ajudou-nos a desenvolver uma série de algoritmos, que provavelmente [sem o financiamento] teríamos demorado mais tempo, porque não conseguiríamos investir tanto dinheiro em recursos, tal como conseguimos investir”, diz.

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