Com o crescente interesse na inteligência artificial (IA) e o rápido desenvolvimento nos últimos anos, a Universidade de Évora apostou na criação do laboratório computacional de alto desempenho, BigData@UE. Uma infraestrutura para prestar apoio à investigação e desenvolver soluções inovadoras na região, mas também a nível nacional e internacional.
Este laboratório surgiu de uma necessidade de independência do departamento de informática da universidade, para que esta fosse capaz de realizar investigação sem despender de grandes valores monetários para aceder a sistemas de machine learning. “É difícil para nós, enquanto docentes, contratarmos e termos acesso a esse tipo de serviços através da universidade”, explica Pedro Salgueiro, coordenador do laboratório.
Outro obstáculo era a falta de capacidade computacional para desenvolver alguns tipos de projetos na área da IA. “Estamos a falar de modelos de Inteligência Artificial que são muito grandes, que não cabem – nem é possível afinar num modelo deste tipo – em computadores normais”, descreve.
Para colmatar essas falhas, foi criado o BigData@UE que adquiriu um computador batizado de Vision. Com este avanço, a Universidade de Évora criou um espaço focado na análise de quantidades de dados, até aqui impensáveis, e na elaboração de modelos, de forma automática, para explicarem a informação recolhida. Esses recursos “agora estão à disposição de praticamente toda a população que precise de usá-los”. O BigData@UE pode ser utilizado por empresas ou centros de investigação que precisem de utilizar um sistema de computação avançado, mas os investigadores deste centro também podem ter uma participação ativa no desenvolvimento de soluções.
Para dar resposta aos problemas da região, a Universidade de Évora definiu que o laboratório deveria servir para solucionar os problemas em seis áreas especificas: agricultura de precisão, cidades inteligentes, mobilidade, aeronáutica, envelhecimento ativo e processamento da língua portuguesa. “São áreas-chave aqui na zona do Alentejo, e aliás nota-se cada vez mais a necessidade dessas áreas em recorrer a mecanismos de inteligência artificial. Pareceu-nos que realmente era aqui o casamento perfeito entre as necessidades e aquilo que poderíamos oferecer”, descreve Pedro Salgueiro.
Esta infraestrutura tem sido utilizada em vários projetos, entre os quais se destaca um relacionado com agricultura de precisão, com a empresa Agroinsider. Através de imagens recolhidas por drones ou por satélites, o sistema foi treinado para detetar se uma determina cultura agrícola precisava de ser regada ou começava a demonstrar sinais de doença.
Outro projeto destacado por Pedro Salgueiro é o que desenvolveu um sistema de transcrição de áudio em português. O objetivo era transcrever as chamadas de um call center de apoio ao cliente para facilitar na pesquisa de uma determinada informação contida nos áudios das chamadas. “Existem serviços pagos, que fazem este tipo de tarefas, e aquilo que nós conseguimos fazer acabou por ter resultados muito equivalentes ao que se conseguia com os serviços pagos”, diz.
Em 2022, também criaram um modelo de linguagem em português, treinado com base no arquivo.pt, o histórico da internet portuguesa. Este foi um projeto pioneiro na área dos modelos de linguagem de grande escala para português, destinados a entender e criar texto. “Curiosamente, depois deu origem a um outro projeto em parceria com os colegas da Universidade de Santiago de Compostela, na Galiza. Aqui acabámos por tirar partido esse tratamento dos dados que já tinha sido feito e estamos em processo de criação ainda deste modelo em galês. Este é um modelo que já tem algumas versões disponíveis, que podem ser descarregadas e utilizadas por qualquer investigador, por qualquer pessoa que esteja interessada em usá-lo”, explica.
“Temos tido cada vez mais pedidos de empresas para entrarmos em candidaturas de projetos, em que se pretende incluir a inteligência artificial nos serviços deles e nos modelos de negócio deles”, conta o docente universitário, que salienta que há vários projetos de empresas locais o que “fomenta o crescimento na zona”.
A ajuda imprescindível dos fundos comunitários
Para construir o BigData@UE, a Universidade de Évora submeteu a candidatura ao programa Alentejo 2020, a partir do qual tiveram acesso ao apoio financeiro de cerca de 825 mil euros, dos quais aproximadamente 702 mil euros provêm do Fundo Europeu de Desenvolvimento Regional (FEDER).
“Sem os fundos não teríamos conseguido comprar os equipamentos, não haveria hipótese. Estamos a falar de equipamentos muito caros, que de outra forma a Universidade de Évora, e até qualquer outra universidade, não teria capacidade financeira”, afirma Pedro Salgueiro.
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