Durante o tempo em que Edgar Fonseca trabalhou num zoo em Cambridge apercebeu-se de que a logística internacional de animais entre zoos era um problema. 'Mexer' um elefante de um zoo para o outro "era uma coisa muito complicada", observa. Viu uma oportunidade de negócio e abriu uma empresa só de logística internacional de animais.
O negócio evoluiu e acabou por se mudar de Cambridge para Madrid. "A primeira razão foi porque eu não aguentava o clima de Cambridge e a segunda razão foi pelos custos de logística, pois o aeroporto de Heathrow é muito mais caro que o de Barajas", conta. Mas em Madrid acabou por reduzir bastante essa atividade, "embora a empresa Reptil Earth continue a funcionar. Deixámos de vender ao público. Só fazemos transações logísticas, de um zoo para outro, o que não requer marketing, nem publicidade, pois temos o mercado conquistado".
Edgar Fonseca começou a vida dos negócios muito tempo antes, "aos 16 anos, com uma empresa de roupa, streetwear e surfwear", recorda. A ideia de investir no mercado de San Miguel surgiu quando andava a passear por Madrid e reparou no telhado deste mercado - que possui uma arquitetura presente nas principais cidades de Portugal. "Sou de Aveiro, que é uma terra com muitas casas em estilo Arte Nova. Sou apreciador de arquitetura e isso foi a primeira coisa que me chamou a atenção. Notei que havia aqui uma obra que nunca mais arrancava e acabei por perguntar o que pretendiam fazer neste espaço. Antes das obras, o mercado de San Miguel era aberto e o único elemento que agora está a mais são as fachadas de vidro. Tem traça do arquiteto Eiffel. Em Madrid há outros mercados semelhantes. Um dos mais bem recuperados é o de San Antonio, que é mais pequeno. Está inserido no bairro popular de Chueca - é como Alfama. É um pouco mais pequeno que este, mas é igualmente turístico", diz.
"Foi assim que um dia acedi ao gabinete de administração deste mercado, onde fui reconhecido pelo arquiteto Víctor Alarcón, que esteve na construção de alguns pavilhões na Expo-98", conta. Na altura, Edgar Fonseca tinha feito alguns trabalhos na Expo, com a logística de animais, no Oceanário. "Alarcón mostrou-me o projeto que tinha em mãos e lançou-me um desafio: 'Só me falta um português para arrancar', ironizou. Tenho formação em biologia e sempre me pareceu que a gastronomia está muito ligada à biologia - estamos a falar de animais, plantas e geografia -, além de que sou apaixonado pela gastronomia. Como saí jovem do meu país, sinto nostalgia sobre determinados produtos, como o leitão à Bairrada, o bacalhau", recordou. Nessa altura, Víctor Alarcón propôs a Edgar Fonseca: "Que tal aliares a doçaria conventual portuguesa ao café?"
A partir daí começou a aventura de Edgar Fonseca no Mercado de San Miguel. "Hoje vendo toda a doçaria conventual portuguesa", diz. Emprega 14 pessoas e fatura ¤1,2 milhões por ano, num espaço com poucos metros de balcão. "Há alturas em que é desaconselhável ter ovos moles em Madrid, pelo calor excessivo. Além disso, vendo produtos que só existem em épocas específicas. Os Dons Rodrigos só devem ser aqui vendidos de fevereiro até março ou abril. Fico surpreendido e orgulhoso de ver os nossos produtos reconhecidos pelo mundo", diz.
Publicado no Caderno de Economia do Expresso de 28 de dezembro de 2014