Quase 35 anos depois de Portugal e China terem restabelecido relações diplomáticas - interrompidas durante a ditadura portuguesa e a liderança de Pequim por Mao Tsé-Tung - as relações económicas entre os dois países vivem um momento de grande intensidade. Uma aproximação visível no investimento de €3 mil milhões que, entre 2011 e 2012, empresas chinesas fizeram no sector elétrico português - a China Three Gorges comprou 21,35% da EDP por €2,7 mil milhões e a State Grid pagou €287,5 milhões por 25% da REN.
Mais investimento chinês poderá estar a caminho - a Águas de Pequim mostrou-se recentemente interessada na privatização da Empresa Geral de Fomento (EGF), cujo processo deverá estar a arrancar. Macau, território que transitou da administração portuguesa para a República Popular da China em 1999, é um elemento-chave na relação luso-chinesa e poderá servir de ponte nas transações económicas e comerciais entre os dois países. O vice-primeiro-ministro, Paulo Portas - numa comitiva onde está também o presidente da Agência para o Investimento e Comércio Externo de Portugal (AICEP), Pedro Reis -, estará em Macau na próxima semana para estreitar os laços comerciais e diplomáticos existentes entre Lisboa e Pequim, nos quais os PALOP e a Lusofonia desempenham um papel fundamental.
O Fórum Macau, a decorrer nos dias 5 e 6 de novembro, será o palco onde será anunciado o relançamento de um fundo chinês no montante de mil milhões de dólares para aplicar em projetos de cooperação com os sete países da lusofonia: Portugal, Angola, Brasil, Moçambique, Guiné-Bissau, Cabo Verde e Timor-Leste. Nesta primeira fase será, porém, ativado apenas 1/4 do valor do fundo, adiantou o presidente da AICEP ao Expresso.
Cooperação, a palavra de ordem
"Será um fundo canalizado totalmente para investimentos em projetos ligados à lusofonia, o que quer dizer que a China está empenhada e comprometida em fomentar as relações com os países de língua portuguesa", avança Pedro Reis. Será um fundo, esclarece, para financiar projetos em áreas tão diversas como as infraestruturas, comunicações, turismo, agricultura, pescas e, entre outras, atividades portuárias. A saúde, sublinha, é uma das áreas de eleição, já que os chineses estão bastante interessados em aprofundar o conhecimento e a investigação em doenças tropicais. O fundo foi constituído em junho de 2013, e esteve fechado durante três anos. O objetivo da China, explica Pedro Reis, é incrementar a cooperação intergovernamental.
"As áreas estratégicas já estão definidas. O China Development Bank e o Fórum Macau vão identificar os projetos elegíveis e atribuir os apoios", esclarece. À AICEP caberá o papel de identificar e conduzir as empresas e apresentar as candidaturas ao fundo de cooperação, explica. Poderão candidatar-se empresas que queiram investir em Portugal, mas também empresas portuguesas que querem fazer investimentos nos países de língua portuguesa, e naturalmente sociedades dos vários países lusófonos, adianta Pedro Reis.
Os detalhes sobre os requisitos para candidaturas elegíveis, a forma de o fazer e os montantes disponíveis para cada área serão definidos neste encontro em Macau. Onde haverá no dia 4 de novembro mais uma paragem do "Caminho da Internacionalização", iniciativa do Expresso e da Caixa Geral de Depósitos. Tema em debate: "As relações comerciais entre Portugal e a China e o posicionamento estratégico de Macau".
Apoiar as PME
"Macau é uma plataforma privilegiada para a entrada no mercado chinês. Gostaríamos que funcionasse como o ponto de triangulação das relações comerciais entre Portugal, China e os países lusófonos", sublinha Pedro Reis. E adianta: "Portugal como é, entre estes países, o único que tem assento na União Europeia poderá ter papel importante neste fórum, já que abre a porta para um mercado que tem 500 milhões de potenciais consumidores".
"Com o lançamento deste fundo de cooperação Macau ganha uma centralidade especial", considera o presidente da AICEP. E exemplifica: "Está no programa deste fundo criar, por exemplo, um centro de serviços para pequenas e médias empresas (PME) lusófonas, que funcionará como uma espécie de incubadora para empresas que queiram entrar no mercado chinês". Não se ficam por aqui os projetos, pretende-se também criar um centro de exposição de empresas e um centro de distribuição de produtos alimentares.
Com uma economia apoiada no turismo e no jogo, Macau funcionará sobretudo como um local apropriado para chineses, portugueses e falantes de língua portuguesa se juntarem, fazerem negócios e estabelecerem parcerias. Há 14 anos sob administração chinesa, Macau tem sido visto por Portugal e pela China como uma plataforma de negociação, um local de encontro, mas ainda pouco usado.
Os últimos dez anos foram de grande crescimento para a chamada Pérola do Oriente - o PIB tem crescido em média acima dos 10% e em 2011 chegou mesmo a aumentar 20%. Em 2013 deverá voltar a crescer 10%. Macau não tem dívida externa nem dívida pública, e a região tem um excedente orçamental que ultrapassa 25% do PIB. Apesar de todo este fulgor, as exportações para um território que esteve quase 500 anos sob administração portuguesa, são muito reduzidas, na ordem dos €21 milhões - ainda assim uma vez e meia superiores ao que eram há cinco anos. As empresas portuguesas exportam para Macau sobretudo produtos alimentares e agrícolas, compostos químicos e máquinas e aparelhos. O intensificar das relações comerciais poderá dar um impulso em matéria de exportações.