Iniciativas e Produtos

Pandemia acelera realidade da banca com menos papéis

Utilização de dados de clientes para oferta de produtos direcionada já é falada há anos. A covid intensificou a transformação, concluem os participantes no fórum CEO Banking. Mas há dois aspetos a ter em atenção: segurança e regulação

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A pandemia está a fazer com que a banca abrace mais rapidamente áreas como a análise de dados e a inteligência artificial, de forma a melhorar a oferta de produtos bancários. Está é uma conclusão retirada na primeira parte do CEO Banking Forum, uma iniciativa promovida pela Impresa (dona do Expresso) e pela Accenture.

Há anos que, na banca, se fala de desmaterialização (um pouco como de todos os sectores): menos papéis, processos mais fáceis e feitos de forma digital são alguns exemplos. O caminho estava a ser percorrido, mas a pandemia de covid-19, que determinou o confinamento e tornou o teletrabalho uma regra (pelo menos temporariamente), antecipou o processo.

“Essa tendência, que andava a ser desenhada, vai ser muito acelerada nos próximos tempos. Nós podemos voltar ao que éramos, mas ficámos com a prova de que era possível fazer de maneira diferente”, considera Luís Pedro Duarte, vice-presidente da Accenture Portugal, na webconferência que se realizou esta quarta-feira (e que antecipou a entrevista com quatro banqueiros, agendado para a noite na SIC Notícias).

Nesse trabalho, continuou o responsável da empresa que fornece serviços aos bancos, vai haver um maior trabalho com dados dos clientes. “Vão poder usar mais os dados para ofertas mais personalizadas”, continua o responsável, seja análise de dados, seja inteligência artificial. Tal está já a acontecer com particulares mas pode ocorrer também com maior expressão junto das empresas, sublinha Luís Pedro Duarte. E este é um trabalho que pode ser acompanhado por fintech, as empresas tecnológicas que prestam serviços financeiros.

Uma opinião partilhada com João Freire de Andrade, da Portugal Fintech, que considera que a análise de risco dos bancos pode utilizar dados e inteligência artificial. As fintech ajudam porque são especializadas (“têm capital humano muito mais qualificado do que os bancos”) e podem responder com velocidade (“perceber o que tem adesão, melhorar”, etc).

O economista António Nogueira Leite, que foi já administrador da Caixa Geral de Depósitos, assumiu que a banca é muito menos “majestática” do que quando começou. Aliás, assume que o sector precisa de ajuda de outras empresas, que podem muito bem ser tecnológicas portuguesas, e que podem ser colocadas ao serviço para reforçar as propostas de produtos ao cliente.

Há em Portugal, diz Nogueira Leite, “um ecossistema de inovação muito interessante na área digital”, mas é preciso que a supervisão, sendo “competente e rigorosa”, não possa agir em demasia, o que poderia cercear a inovação.

Tudo isto com um foco: segurança. O alerta foi deixado pelo também economista João Duque: “Além da segurança do nosso dinheiro, da solvência, há agora a segurança operacional, informática. Estava já um bocadinho na ordem do dia, mas foi puxada para primeiro plano”.