Exclusivos

González ou Noboa, quem vai ser o próximo Presidente do Equador? A única certeza é que terá um mandato curto

Daniel Noboa, 35 anos, é a grande surpresa da primeira volta das presidenciais no Equador, celebradas no domingo. As sondagens atribuíam-lhe o 6º lugar e nenhum dos sete adversários fez grandes ataques ao mais jovem dos oito candidatos, filho do milionário Álvaro Noboa, que se candidatou cinco vezes à presidência, e é um dos homens mais ricos do país. A 15 de outubro, Noboa enfrentará numa segunda volta a candidata que era favorita na primeira, Luísa González. Parte em desvantagem

Daniel Noboa usa colete antibalas numa campanha em que já foi assassinado o candidato Fernando Villavicencio
RODRIGO BUENDIA/AFP/Getty Images

O Equador é o maior produtor e exportador de bananas. A vida deste país passa, inevitavelmente, pelo ciclo produtivo e comercial deste fruto. Daniel Noboa, o mais jovem dos oito candidatos à primeira volta das presidenciais antecipadas, celebradas no passado domingo, é filho do mais importante empresário do sector. Passou à segunda volta, por entre os pingos da chuva, sem que os estudos de opinião ou os seus adversários tenham valorizado a sua candidatura.

“As sondagens atribuíam-lhe 3 a 6% dos votos, ou seja, o penúltimo lugar", disse ao Expresso Felipe Botero, professor de Ciência Política na Universidade dos Andes. “A questão é entender como surgiu este resultado inesperado e espontâneo, e perceber porque é depois do assassínio de Fernando Villavicencio o eleitorado não votou no seu substituto, Christian Zurita, ou no candidato Jan Topic”, que tem discurso mais securitário, comenta o especialista em eleições na América Andina e Central. Botero lembra que “tudo está em aberto” para a segunda volta, que se realiza a 15 de outubro.

As eleições gerais de dia 20 decorreram sem incidentes no final da mais violenta campanha da história do país. Um candidato presidencial (Fernando Villavicencio) e um autarca foram assassinados.

“Daniel Noboa foi a surpresa da noite. Surpreendeu pela boa gestão das redes sociais, e porque a sua juventude se conectou com o forte desejo de renovação e mudança dos equatorianos”, disse ao Expresso o eurodeputado Jávi López, que acompanha o dossiê da América Latina no Parlamento Europeu.

Luísa González, 45 anos, a única mulher candidata, foi a mais votada na corrida presidencial. O partido Revolucão Cidadã, que a apoia – e é afeto ao ex-Presidente Rafael Corrêa – elegeu 51 deputados, seguido pelo Movimento Constrói do assassinado Villavicencio.

Topic com 15%

López deixa uma alerta sobre os riscos de uma política securitária. “O importante resultado de Jan Topic [quarto lugar com 14,6%] é um indicador dos graves problemas de insegurança do país e do avanço das posições inspiradas por Nayib Bukele [Presidente de El Salvador] em toda a região”.

Topic, ex-membro da Legião Francesa, já apelou ao voto em Noboa na segunda volta. Tal indica que “os eleitores estão cansados da insegurança, e dispostos a sacrificar as liberdades individuais para recuperar uma certa normalidade nas suas vidas”, analisa López. “É um recado claro para os democratas: ou a segurança dos cidadãos está garantida ou a região pode cair numa deriva autoritária.”

Riscos reais do narcotráfico

Se as bananas fazem parte da economia tradicional do Equador, o risco de o país se transformar num Estado ameaçado pelos cartéis do narcotráfico aumentou substancialmente “nos últimos 10 a 15 anos”, alerta Botero. “À medida que as autoridades colombianas foram reforçando a luta contra o narcotráfico, os narcotraficantes deslocaram-se” para o vizinho Equador, encaixado entre a Colômbia e o Peru — dois grandes produtores de coca — e o oceano Pacífico.

Acresce a este caldo explosivo o facto de Guayaquil, a cidade mais populosa do país – onde Noboa nasceu – “possuir um grande porto”, que pode funcionar como canal de exportação da droga, e de a economia estar dolarizada desde janeiro de 2000, acrescenta o professor da Universidade dos Andes.

Em junho, Álvaro Noboa, um dos homens mais ricos do Equador, publicou uma carta aberta ao seu filho Daniel na rede social X (antigo Twitter). Endossa-lhe a sua eterna ambição de ser eleito Presidente.

Segunda volta (quase) repete disputa eleitoral de 2006

Em 2006, Álvaro Noboa (pai de Daniel) foi o candidato mais votado na primeira volta, tendo obtido mais 200 mil votos do que Corrêa. Este foi eleito por larga maioria a 26 de novembro, no segundo turno. Corrêa – que apoia Luísa González – foi o chefe de Estado que mais tempo desempenhou este cargo, tendo deixado o poder em 2017.

Cerca de 100 mil polícias e militares garantiram a segurança dos locais de voto no último domingo. Daniel Noboa, apoiado pela Ação Democrática Nacional (ADN), que apoiara a candidatura de seu pai em 2006, foi o primeiro candidato a exercer o direito de voto na escola Antonio Moya Sánchez. Na companhia da mãe e da mulher, Lavinia Valbonesi, nutricionista com grande poder de influência nas redes sociais, o mais jovem dos oito candidatos foi votar envergando um colete antibalas.

Para já, sabemos que González e Noboa precisam de coragem física para disputar a segunda volta num país assolado pela violência. E também sabemos que prognósticos sobre a deslocação de votos do eleitorado são, por enquanto, impossíveis de fazer.

O mandato do chefe de Estado eleito nas presidenciais intercalares de 15 de outubro termina em maio 2025, data em que se completaria o consulado de Guillermo Lasso se este não tivesse convocado eleições antecipadas para evitar um segundo processo de destituição.

Luisa González, seguidora do antigo Presidente Rafael Correa, foi a mais votada na primeira volta das presidenciais
Franklin Jacome/Getty Images

Perfil etário dos autarcas eleitos

Os autarcas eleitos nas eleições gerais de domingo [presidenciais, legislativas, autárquicas e dois referendos] “mostram que, aos poucos, há uma mudança geracional na política local”, lê-se no site do jornal “Primicias”. Segundo este órgão de comunicação, a “maioria ainda tem mais de 41 anos, mas é crescente o número de candidatos eleitos com 40 anos ou menos, ou seja, correspondem aos millennials”. Se a tendência se mantiver nas presidenciais, o rejuvenescimento geracional pode ser um trunfo para Noboa.

O jornal refere que a idade dos 221 novos autarcas varia entre “os 25 e os 72 anos, embora a maioria esteja em torno de 40 […] No total, 112 prefeitos pertencem à chamada Geração X, que inclui os que têm entre 41 e 55 anos”.