O Equador é o maior produtor e exportador de bananas. A vida deste país passa, inevitavelmente, pelo ciclo produtivo e comercial deste fruto. Daniel Noboa, o mais jovem dos oito candidatos à primeira volta das presidenciais antecipadas, celebradas no passado domingo, é filho do mais importante empresário do sector. Passou à segunda volta, por entre os pingos da chuva, sem que os estudos de opinião ou os seus adversários tenham valorizado a sua candidatura.
“As sondagens atribuíam-lhe 3 a 6% dos votos, ou seja, o penúltimo lugar", disse ao Expresso Felipe Botero, professor de Ciência Política na Universidade dos Andes. “A questão é entender como surgiu este resultado inesperado e espontâneo, e perceber porque é depois do assassínio de Fernando Villavicencio o eleitorado não votou no seu substituto, Christian Zurita, ou no candidato Jan Topic”, que tem discurso mais securitário, comenta o especialista em eleições na América Andina e Central. Botero lembra que “tudo está em aberto” para a segunda volta, que se realiza a 15 de outubro.
As eleições gerais de dia 20 decorreram sem incidentes no final da mais violenta campanha da história do país. Um candidato presidencial (Fernando Villavicencio) e um autarca foram assassinados.
“Daniel Noboa foi a surpresa da noite. Surpreendeu pela boa gestão das redes sociais, e porque a sua juventude se conectou com o forte desejo de renovação e mudança dos equatorianos”, disse ao Expresso o eurodeputado Jávi López, que acompanha o dossiê da América Latina no Parlamento Europeu.
Luísa González, 45 anos, a única mulher candidata, foi a mais votada na corrida presidencial. O partido Revolucão Cidadã, que a apoia – e é afeto ao ex-Presidente Rafael Corrêa – elegeu 51 deputados, seguido pelo Movimento Constrói do assassinado Villavicencio.
Topic com 15%
López deixa uma alerta sobre os riscos de uma política securitária. “O importante resultado de Jan Topic [quarto lugar com 14,6%] é um indicador dos graves problemas de insegurança do país e do avanço das posições inspiradas por Nayib Bukele [Presidente de El Salvador] em toda a região”.
Topic, ex-membro da Legião Francesa, já apelou ao voto em Noboa na segunda volta. Tal indica que “os eleitores estão cansados da insegurança, e dispostos a sacrificar as liberdades individuais para recuperar uma certa normalidade nas suas vidas”, analisa López. “É um recado claro para os democratas: ou a segurança dos cidadãos está garantida ou a região pode cair numa deriva autoritária.”
Riscos reais do narcotráfico
Se as bananas fazem parte da economia tradicional do Equador, o risco de o país se transformar num Estado ameaçado pelos cartéis do narcotráfico aumentou substancialmente “nos últimos 10 a 15 anos”, alerta Botero. “À medida que as autoridades colombianas foram reforçando a luta contra o narcotráfico, os narcotraficantes deslocaram-se” para o vizinho Equador, encaixado entre a Colômbia e o Peru — dois grandes produtores de coca — e o oceano Pacífico.
Acresce a este caldo explosivo o facto de Guayaquil, a cidade mais populosa do país – onde Noboa nasceu – “possuir um grande porto”, que pode funcionar como canal de exportação da droga, e de a economia estar dolarizada desde janeiro de 2000, acrescenta o professor da Universidade dos Andes.
Em junho, Álvaro Noboa, um dos homens mais ricos do Equador, publicou uma carta aberta ao seu filho Daniel na rede social X (antigo Twitter). Endossa-lhe a sua eterna ambição de ser eleito Presidente.
Segunda volta (quase) repete disputa eleitoral de 2006
Em 2006, Álvaro Noboa (pai de Daniel) foi o candidato mais votado na primeira volta, tendo obtido mais 200 mil votos do que Corrêa. Este foi eleito por larga maioria a 26 de novembro, no segundo turno. Corrêa – que apoia Luísa González – foi o chefe de Estado que mais tempo desempenhou este cargo, tendo deixado o poder em 2017.
Cerca de 100 mil polícias e militares garantiram a segurança dos locais de voto no último domingo. Daniel Noboa, apoiado pela Ação Democrática Nacional (ADN), que apoiara a candidatura de seu pai em 2006, foi o primeiro candidato a exercer o direito de voto na escola Antonio Moya Sánchez. Na companhia da mãe e da mulher, Lavinia Valbonesi, nutricionista com grande poder de influência nas redes sociais, o mais jovem dos oito candidatos foi votar envergando um colete antibalas.
Para já, sabemos que González e Noboa precisam de coragem física para disputar a segunda volta num país assolado pela violência. E também sabemos que prognósticos sobre a deslocação de votos do eleitorado são, por enquanto, impossíveis de fazer.
O mandato do chefe de Estado eleito nas presidenciais intercalares de 15 de outubro termina em maio 2025, data em que se completaria o consulado de Guillermo Lasso se este não tivesse convocado eleições antecipadas para evitar um segundo processo de destituição.
Perfil etário dos autarcas eleitos
Os autarcas eleitos nas eleições gerais de domingo [presidenciais, legislativas, autárquicas e dois referendos] “mostram que, aos poucos, há uma mudança geracional na política local”, lê-se no site do jornal “Primicias”. Segundo este órgão de comunicação, a “maioria ainda tem mais de 41 anos, mas é crescente o número de candidatos eleitos com 40 anos ou menos, ou seja, correspondem aos millennials”. Se a tendência se mantiver nas presidenciais, o rejuvenescimento geracional pode ser um trunfo para Noboa.
O jornal refere que a idade dos 221 novos autarcas varia entre “os 25 e os 72 anos, embora a maioria esteja em torno de 40 […] No total, 112 prefeitos pertencem à chamada Geração X, que inclui os que têm entre 41 e 55 anos”.