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Ministra da Agricultura garante: “Novo plano estratégico não é um instrumento para distribuir fundos nem para alocar recursos financeiros”

Em entrevista ao Expresso, Maria do Céu Antunes antecipa a “Agenda de Inovação para a Agricultura 2030”, um plano estratégico a dez anos que traça metas ambiciosas que podem mudar a face do sector. Entre elogios à resiliência dos produtores perante o impacto da pandemia e as críticas que têm sido feitas às falhas estruturais que continuam por resolver

Ana Baião

Do seu gabinete no ministério da Agricultura, em plena Praça do Comércio, Maria do Céu Antunes observa a azáfama de início de setembro, que não se equipara ao que se assistia no pré-pandemia. Todos os sectores foram duramente afetados pela covid-19, agricultura inclusive, com a disrupção das cadeias de distribuição a deixar muitos produtores com dificuldades em escoar o fruto do seu trabalho. Debaixo de um quadro em que as ceifeiras se destacam, a ministra da Agricultura sentou-se para uma conversa com o Expresso na semana em que (amanhã, sexta-feira, 11 de setembro), vai apresentar na Agroglobal (maior feira profissional do sector, que conta com o apoio do Expresso) a Agenda de Inovação para a Agricultura 2030, numa altura em que a incerteza ainda é grande.

Qual foi o impacto da pandemia na agricultura?

Trouxe toda uma nova realidade à vida dos portugueses e portuguesas, e também dos agricultores. Em primeiro lugar, importa dizer que a agricultura se mostrou um sector muito resiliente, graças ao esforço de todos o que compõem o agroalimentar. Nada faltou na mesa dos portugueses, tivemos sempre um regular abastecimento de bens alimentares e continuamos a exportar. Aliás, continuamos a aumentar as exportações, pese embora a um ritmo mais baixo do que no ano passado. Posso inclusivamente dizer que, se compararmos o primeiro semestre deste ano com o período homólogo, as exportações crescem 0,4% face a 2019, sendo que, em junho, também comparado com o ano passado, crescem 5,2%. Denunciam já uma retoma no sector. Ainda assim houve problemas para os quais foram precisas respostas rápidas. A produção estava preparada para um nível de consumo que acabou por ser diferente, com o encerramento do canal Horeca [área de atividade económica relativa aos hotéis, restaurantes e cafés] e o arrefecimento do mercado externo. Por outro lado, os portugueses começaram a consumir de forma diferente, a partir de casa, passaram a fazer compras online. Com a sua capacidade de inovação, os agricultores tiveram possibilidade de entrar no e-commerce. A necessidade levou a que isso pudesse acontecer. Disponibilizamos um conjunto de ferramentas e de incentivos desde o primeiro momento, alguns que chegaram rápido, outros que ainda não chegaram ou estão a chegar, mas que decorrem daquilo que é possível fazer de acordo com a PAC [Política Agrícola Comum]. A maior parte permite aos agricultores fazer face às dificuldades que sentiram.