Energia

Central nuclear Almaraz, em Espanha, vai mesmo fechar. Iberdrola admite desligar reatores já em 2027

Em Londres, onde apresenta esta quarta-feira o seu plano estratégico até 2028, a elétrica espanhola Iberdrola confirmou que já não conta com a central nuclear de Almaraz no futuro da empresa

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A central nuclear de Almaraz, detida em parte pela elétrica espanhola Iberdrola - na província da Extremadura e aquela que fica mais perto de Portugal, a pouco mais de 130 quilómetros da fronteira - vai fechar já em 2027, anunciou a empresa esta quarta-feira na apresentação do seu novo plano estratégico que estará em vigor entre 2025 e 2028. 

No evento Capital Markets Day, que decorre esta manhã em Londres, a gigante elétrica apresentou também a sua visão de negócio até 2031 e deu como certo o "fim do nuclar conforme o protocolo assinado, com um impacto de 550 megawatts (MW) em 2028", pode ler-se na apresentação feita aos acionistas pelos gestores de topo da empresa, que é detida pela italiana Enel: Ignacio Galán (presidente), Pedro Azagra (CEO) e José Sainz (diretor financeiro). No total, Almaraz tem uma potência instalada 2.132 MW (I e II). 

"De acordo com o protocolo, a previsão é de que Almaraz I (550 MW) seja desligada em novembro de 2027, e Almaraz II em outubro de 2028", confirma o documento, referindo-se ao acordo assinado em 2019 entre as grandes elétricas proprietárias de centrais nucleares em Espanha (Endesa, Iberdrola e Naturgy) e o Governo de Madrid. Desta forma, a empresa prevê chegar a 2028 com 32.300 MW de capacidade instalada, o que significa um aumento de 500 MW, e inclui já uma redução de 1.500 MW "por conta do encerramento da central nuclear de Almaraz e outros ativos". A Iberdrola detém 50% da central, a que correspondem os 550 MW referidos. A central é também detida pela Endesaa e Naturgy. 

De acordo com o jornal espanhol Expansión, neste momento as três empresas estão ainda a tentar chegar a um acordo entre si, e também com o Executivo de Pedro Sánchez para prolongar a vida e o tempo de operação das centrais nucleares no país vizinho, através da renegociação do pacto assinado já há seis anos que prevê o encerramento das mesmas entre 2027 e 2035. Com o tema envolto em polémica a nível político e empresarial, a probabilidade de que essa extensão se venha, de facto a confirmar, parece cada vez mais distante, o que obrigou a Iberdrola a considerar no seu novo plano estratégico o futuro sem Almaraz já a partir de 2027. 

Segundo o El Mundo, já há várias semanas que a central nuclear de Almaraz está a funcionar em modo de "cessação de operações". O jornal refere que a próxima operação de reabastecimento, agendada para 6 de outubro, vai implicar uma redução de cerca de 200 postos de trabalho, quando, historicamente, esse processo empregava 1.200 trabalhadores de mais de 70 empresas especializadas da região. 

Por seu lado, o CEO da Endesa, José Bogas, assegurou recentemente que as negociações com o Governo espanhol para modificar o calendário de encerramento no nuclear na Península Ibérica continuam em aberto, com as três grandes elétricas alinhadas no que diz respeito a avançar para uma mini extensão de três anos, o que permitiria manter Almaraz e outros reatores nucleares no país, sem afetar o fim do nuclear em Espanha até 2035, como pretende o Governo. 

Em cima da mesa está, no entanto, a questão fiscal. As empresas estão dispostas a manter o nuclear mediante um corte parcial nos impostos, mas Sánchez rejeita mexer na "taxa Enresa" - Empresa Nacional de Residuos Radioactivos -, uma contribuição que os proprietários das centrais pagam anualmente para cobrir os custos futuros do descomissionamento das mesmas e que foi aumentada em 30% em 2024 (de 7,98 para 10,36 euros por megawatt-hora). Esta taxa é aplicada às centrais nucleares espanholas para financiar a gestão de resíduos radioativos e o desmantelamento dessas instalações. 


Ibedrola quer aposta segura em redes, com receitas garantidas

Além de assumir, pela primeira vez, um plano de negócio para os próximos anos que não inclui a energia nuclear, a Iberdrola anunciou no seu Capital Markets Day que vai investir 58 mil milhões de euros até 2028 (+30%) para acelerar o crescimento no segmento de redes elétricas nos EUA e no Reino Unido. O objetivo é aumentar o peso das receitas reguladas e garantidas provenientes da concessão de operação de redes, sendo que 65% dos investimentos previstos serão direcionados para estes dois países (face a 40% entre 2021 e 2024).

"O Reino Unido é o principal destino de investimento (20 mil milhões de euros), seguido pelos EUA (16 mil milhões), Ibéria (9 mil milhões), Brasil (7 mil milhões) e outros países da UE e Austrália (5 mil milhões). Nas redes, o investimento chegará a 37 mil milhões, com a base de ativos regulados a ascender a 70 mil milhões de euros (+40 mil milhões desde 2020)", explicou a Iberdrola.

No que diz respeito às redes de distribuição, a espanhola vai apostas 25 mil milhões de euros, tendo uma base de ativos que chega a 50 mil milhões (+25 mil milhões face a 2020). Nas redes de transporte, o investimento será de 12 mil milhões (95% no Reino Unido e EUA), com ativos no valor de 20 mil milhões (+14 mil milhões face a 2020).

O segmento de Geração e Clientes terá investimentos de 21 mil milhões de euros, dos quais 75% em projetos já em construção: 38% em energia eólica offshore, 24% em eólica onshore, 10% em solar fotovoltaica, 10% em armazenamento.

Para 2028, a Iberdrola prevê alcançar um EBITDA (lucros antes de juros, impostos, depreciação e amortização) de 18 mil milhões de euros em 2028 (+3 mil milhões), "com as redes como principal motor" e a representar 55% do EBITDA. Já o lucro líquido ajustado daqui a três anos poderá chegar a 7,6 mil milhões de euros (+ 2 mil milhões). "Com negócios contratualizados a longo prazo, 75% do EBITDA em 2028 não dependerá dos preços da energia", ambiciona a empresa. No que diz respeito à rotação de ativos, a elétrica espera gerar 13 mil milhões de euros (75% já concluídas).

“Este plano visa transformar o perfil da Iberdrola numa empresa mais regulada, com as redes como vetor de crescimento", confirmou Ignacio Galán, presidente executivo da Iberdrola.








Sobre a Iberdrola


A Iberdrola é líder global em energia renovável e uma das maiores empresas de eletricidade do mundo. Em Portugal desde 2003, tem vindo a aumentar o seu portfólio de produção de energia renovável e oferece soluções de energia verde, energia solar e mobilidade elétrica nos setores empresarial e residencial. Sendo um dos principais promotores de energia renovável em Portugal, a Iberdrola conta com um diverso ecossistema de Parques Eólicos, Parques Fotovoltaicos e a maior iniciativa de energia renovável em Portugal - o Sistema Eletroprodutor do Tâmega (SET). Composto por três Centrais - Alto Tâmega, Gouvães e Daivões -, o SET conta com um investimento de mais de 1.600 M€ e uma capacidade total instalada de 1.158 MW, que permitirá evitar a emissão de 1,2 milhões de toneladas de CO2 por ano e facilitará a integração de demais tecnologias de energias renováveis. No leilão de capacidade solar realizado em 2019, a Iberdrola foi a maior adjudicatária em número de lotes com um total de 7 projetos fotovoltaicos, seis dos quais já em funcionamento: as Centrais fotovoltaicas Alcochete I e II, Conde, Algeruz e Montechoro I e II. Depois de evitar a emissão de 26,7 milhões de toneladas de CO2 em 2023, a Iberdrola obteve, em 2024, a classificação mais alta ("Green") pela agência Fitch Sustainable - a mais alta em transição verde.