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Economia

Porque Trump tem pressa em controlar o banco central

O presidente norte-americano sondou apoio político para uma demissão antecipada de Jerome Powell à frente da Fed. Sem cobertura legal, Trump procura, agora, “justa causa” para o despedir. A pressa vem da necessidade de juros baixos antes das eleições intercalares em 2026

Drew Angerer/Getty Images

Donald Trump tem pressa em que os juros do banco central desçam do nível atual de 4,5%. Já por diversas vezes reclamou que o nível justo para os juros seria 1%, mas não reivindicou, até agora, um calendário preciso para esse corte massivo de 3,5 pontos percentuais.

A razão é política. O presidente norte-americano enfrenta eleições intercalares para o Congresso em novembro do próximo ano e precisa de juros baixos do banco central para emagrecer os encargos da dívida federal que vão subir significativamente: de 880 mil milhões de dólares (cerca de 850 mil milhões de euros, ao câmbio da altura) no fecho do mandato de Joe Biden para mais de 1 bilião de dólares (trilião, na designação norte-americana) em 2026.

A causa deste disparo são as consequências imediatas e nos próximos anos da sua política orçamental com a promulgação a 4 de julho da batizada “Grande e maravilhosa” lei que engordará o défice para mais de 2 biliões de dólares (triliões, na designação norte-americana) já no próximo ano.

“Trump sabe que uma redução das taxas de juro aliviaria substancialmente o encargo financeiro do governo federal”, diz Ricardo Nunes

“Trump sabe que uma redução das taxas de juro aliviaria substancialmente o encargo financeiro do governo federal”, sublinha ao Expresso Ricardo Nunes, o economista português que trabalhou uma década no sistema da Reserva Federal em Washington e em Boston.

A pretensão da Casa Branca foi esta segunda-feira criticada pelos dois anteriores presidentes do banco central. Ben Bernanke e Janet Yellen assinaram um artigo de opinião publicado no The New York Times, no qual alertam sobre os perigos da interferência política na política da Reserva Federal. O banco central deve ter liberdade para tomar decisões com base em dados, e não ser forçado a agir por líderes políticos, dizem os dois ex-responsáveis da política monetária.