Foi uma solução política inédita em Portugal que colocou a esquerda à frente dos destinos do país, com o Executivo PS de António Costa respaldado por acordos com BE e com PCP/PEV. O primeiro ano completo de governação foi 2016, mas, para contar esta história é preciso recuar uns meses. Após os anos da austeridade da troika, a coligação PSD/CDS-PP, de Pedro Passos Coelho e Paulo Portas — que tinha governado o país nesses anos — vence as eleições de outubro de 2015. Contudo, a esquerda passa a ter a maioria no Parlamento. Passos e Portas ainda formam Governo, mas dura menos de duas semanas.
A 10 de de novembro de 2015, o PS assina os acordos de governação com PCP/PEV, por um lado, e com BE, por outro, e a esquerda aprova no Parlamento uma moção de rejeição ao programa da coligação de direita. E o Executivo cai. Nesse dia, Paulo Portas apelida a nova solução governativa de “‘geringonça, um disparate de medidas para conciliar o irreconciliável’”. A 26 de novembro António Costa toma posse como primeiro-ministro, e a ‘geringonça’, a que muitos vaticinaram vida curta, dura toda a legislatura — e até para lá de 2019, embora com bases mais frágeis. A expressão ‘geringonça’ pegou. Foi mesmo a palavra do ano de 2016, na tradicional iniciativa da Porto Editora.