O Banco Central Europeu (BCE) deve manter a sua política restritiva até conseguir chegar ao objetivo de 2% de inflação, o que as projeções não preveem antes do final de 2025. A recomendação é do Fundo Monetário Internacional (FMI), que publicou esta quarta-feira em Bruxelas o Relatório Económico Regional sobre a Europa ( Regional Economic Outlook for Europe), que inclui a zona euro.
O custo de aliviar demasiado cedo, começando a cortar prematuramente nas taxas diretoras do BCE, “é substancial”, avisa o relatório. Uma simulação para a zona euro feita pelos economistas do FMI revela que “a subestimação na persistência da inflação” por parte dos decisores do euro pode provocar a perda de um ponto percentual no PIB no médio prazo, em virtude de o banco central vir a ser obrigado a fazer um segundo ciclo de aperto monetário com impacto negativo no crescimento.
Tendo em conta que as previsões de crescimento económico do FMI para a zona euro até 2028 apontam para um ritmo anual abaixo de 2% e com uma trajetória progressivamente descendente, um impacto negativo daquela envergadura significaria um crescimento perto da estagnação entre 2025 e 2028.
Os riscos: geopolítica, salários e falta de consolidação orçamental
A prudência do BCE, recomendada pelo FMI, é exigida pela necessidade de manter margens de segurança “contra surpresas negativas”. Não só na geopolítica, como na possibilidade de o andamento da política orçamental descarrilar de uma “consolidação orçamental suave”. Ou ainda surpresas na curva de crescimento dos salários. “Uma subida nominal sustentada dos salários acima da inflação e da produtividade é um risco-chave para a desinflação [descida da taxa de inflação]”, adverte o relatório.
O estudo refere que os salários nominais aumentaram 4,5% na zona euro no primeiro semestre de 2023. O FMI acrescenta que “a pressão para aumento de salários vai provavelmente persistir”. E, logo no início do relatório, adverte-se que “um crescimento sustentado dos salários pode atrasar a estabilidade de preços em 2025”.
O cenário-base do FMI para a Europa e a zona euro assenta em vários pressupostos: que a política monetária se vai manter restritiva durante 2024; que a consolidação orçamental é suave, mas não travada; que não há uma escalada na guerra na Ucrânia; e que os preços das matérias-primas se vão manter abaixo dos picos de 2022.
O risco é que os pressupostos do cenário-base do FMI não sejam cumpridos e que o BCE se veja obrigado a apertar ainda mais a política monetária. Se isso ocorrer é quase certo um cenário mais negativo de estagnação económica com inflação alta, conclui o relatório.
As previsões do relatório para Portugal apontam para que a inflação em 2025 ainda esteja acima da média de 2,2% para a zona euro e que o crescimento em 2024 não vá além de 1,5%, acima da média do espaço do euro, mas entre os oito mais baixos no grupo dos 20. Claramente pior, com crescimentos abaixo de 1%, deverão ficar a Alemanha, Áustria e Bélgica. A previsão de um crescimento da economia portuguesa de 1,5% no próximo ano é similar às avançadas pelo Banco de Portugal e pelo Ministério das Finanças na proposta de Orçamento do Estado para 2024.