Os juros da dívida pública nos periféricos do euro que estiveram sob resgate ou em situação crítica há uma década sofreram uma reviravolta. As posições dentro do clube que o jornal britânico Financial Times alcunhou insultuosamente de PIIGS (conotando com porcos em inglês) sofreram uma mudança radical uma década depois.
Em outubro de 2013, ia Portugal no terceiro ano de resgate pela troika, os juros (yields) dos títulos a 10 anos ainda estavam em 6,5% no mercado secundário. A distância para os juros espanhóis, irlandeses ou italianos era de mais de 2 pontos percentuais acima. No fecho desta sexta-feira, os juros das obrigações portuguesas registavam 3,63%, acima das irlandesas (3,35%), mas claramente inferiores às espanholas (4%) e às italianas (4,9%).
Tratam-se de taxas de rendibilidade no mercado secundário, onde se transacionam entre investidores, pelo que são indicativas da trajetória. Só no mercado primário, onde o Estado emite dívida, se pode apurar o custo real da dívida. Portugal, este ano, ainda não colocou em leilões dívida a 2 anos.
Há dez anos era a Grécia que liderava o grupo dos juros mais altos na zona euro, registando 9,5%. Hoje é Itália. Em dez anos, os juros portugueses reduziram-se em quase três pontos percentuais, mas os gregos caíram quatro pontos percentuais, registando a redução mais significativa entre os resgatados da crise das dívidas na zona euro que se iniciou em 2010.
A dívida do Reino Unido, a pátria do Financial Times, regista, atualmente, juros de 4,6% a 10 anos, acima dos próprios juros gregos. O jornal britânico não conseguiria repetir hoje a coluna Lex intitulada “Porcos na lama” ("PIGS in muck", no original) que publicou em setembro de 2008.