Os encontros do Banco Central Europeu (BCE) em Sintra são sempre relevantes. Pela análise que fazem do estado das economias e pelos sinais que deixam sobre o futuro da política monetária. Não é todos os dias que se sentam à mesma mesa a presidente do BCE, Christine Lagarde, o presidente da Reserva Federal dos EUA, Jerome Powell, o governador do Banco de Inglaterra, Andrew Bailey e o diretor-geral do Banco de Pagamentos Internacionais (BIS), Agustín Carstens. Com os preços a disparar e os bancos centrais a travar a fundo, a conversa ganha uma nova centralidade.
O Fórum do BCE, na tradição do que faz a Fed dos EUA nos encontros anuais de verão em Jackson Hole, no Wyoming, cruza debate politico atual com pensamento académico. Duas áreas de que se entrecuzam num mix que varia ao sabor do momento. E dos temas que marcam a agenda. Sempre com o controlo da inflação e a política monetária em pano de fundo. Neste primeiro dia, o ponto com maior relevância mediática foi a intervenção inicial de Christine Lagarde que, durante 30 minutos, defendeu a estratégia do BCE que tem sido bastante criticado pela resposta demasiado lenta à inflação que na zona euro está atualmente acima de 8%.
"Vamos até onde for necessário para ter a certeza de que a inflação estabiliza nos 2% a médio prazo", garantiu Lagarde na intervenção que abriu os trabalhos desta terça-feira. Além de prometer um mecanismo novo para lidar com a fragmentação da zona euro – que implicará alguma condicionalidade em termos de política orçamental – e anunciar o reinvestimento dos reembolsos da dívida a partir de 1 de julho em função da necessidade de conter a pressão dos mercados sobre alguns países, insistiu no gradualismo e na opcionalidade na gestão da política monetária. E explicou: "O gradualismo permite avaliar o impacto das decisões nas perspetivas de inflação à medida que se avança, o que pode ser uma estratégia prudente em tempos de incerteza. A opcionalidade assegura que a política reage de forma ágil aos novos dados que vão surgindo sobre a economia e sobre as expetativas de inflação e, se a incerteza diminuir, re-otimizar a trajetória da política se necessário."
Ou seja, tudo em aberto. Aumentos de taxas em julho e setembro, as próximas duas reuniões do BCE, mas sem se comprometer com mexidas concretas. Tudo terá de se avaliar no seu devido tempo. Tratada a agenda e os problemas de curto prazo, chega o longo prazo e as questões estruturais. Saem os banqueiros centrais, entram em cena os académicos.