Economia

Carga fiscal de 2021 atingiu valor mais elevado dos últimos 27 anos

Conselho das Finanças Públicas alerta que Ministério das Finanças só usou 54 dos 200 milhões previstos no orçamento do ano passado para o programa IVAucher

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“A carga fiscal medida em rácio do PIB registou um novo aumento em 2021, atingindo o valor mais elevado dos últimos 27 anos”, destaca o Conselho das Finanças Públicas (CFP) no relatório divulgado esta quinta-feira sobre a evolução orçamental das administrações públicas (AP) em 2021.

Partindo de 33,9% em 2016 e 2017, a carga fiscal já subira para 34,5% em 2018 e para 35,1% em 2020 antes de atingir este novo máximo.

“A este respeito, assinale-se ainda o aumento do peso dos principais impostos indiretos sobre o consumo privado nominal, bem como o aumento do peso do IRS proveniente do trabalho e das contribuições sociais efetivas sobre as remunerações totais”, acrescenta a entidade liderada por Nazaré Costa Cabral.

“A carga fiscal, medida pela receita de contribuições sociais efetivas e impostos cobrados pelas administrações públicas, subiu para 35,6% do PIB, mais 0,5 pontos percentuais do PIB do que o registado em 2020, traduzindo o incremento do peso das contribuições sociais efetivas (10,6% do PIB em 2021 vs. 10,5% do PIB em 2020) e dos impostos indiretos (15,3% do PIB em 2021 vs. 14,6% do PIB em 2020)”, calcula este órgão independente para avaliação da sustentabilidade da política orçamental.

A receita das administrações públicas registou um crescimento de 10%, cerca do dobro do observado para o PIB nominal (5,6%), elevando assim, o rácio da receita pública no PIB para 45,3% em 2021, mais 1,8 pontos percentuais do que em 2020. Já o défice orçamental reduziu-se em 3 pontos percentuais – de 5,8% para 2,8% - o maior contributo para a redução do desequilíbrio das contas públicas veio então deste lado da receita.

“Em termos nominais, a receita pública aumentou 8709 milhões de euros sustentada, em grande medida, pela receita fiscal e contributiva, em particular a receita tributária. Os impostos indiretos, cujo incremento atingiu 10,6%, foram responsáveis por cerca de 90% do crescimento da receita fiscal das AP com destaque para o comportamento da receita líquida de IVA com uma variação de 13,4%”, destaca o Conselho das Finanças Públicas.

Impostos indiretos decisivos

De facto, os impostos indiretos foram determinantes para a recuperação da receita fiscal em 2021: “A receita tributária aumentou 3539 milhões de euros (7,2%) traduzindo, em aproximadamente 90%, o comportamento favorável da receita arrecadada com a tributação indireta, de 3098 milhões de euros”. O destaque vai para a recuperação das receitas provenientes do IVA (2253 milhões de euros ou mais 13,4%), do IMT (352 milhões de euros ou mais 37,1%) e do ISP (252 milhões de euros ou mais 7,6%).

O IRS também teve “bom desempenho” (808 milhões de euros ou mais 5,8%) associado ao crescimento das remunerações em 2021 (5,6%), a compensar na totalidade a queda verificada na receita de IRC (-394 milhões de euros ou -7,1%). As contribuições sociais registaram um novo incremento em 2021, refletindo a evolução favorável do mercado de trabalho. O aumento da receita proveniente das contribuições sociais situou-se em 1543 milhões de euros (6,0%), representando cerca de um terço do aumento da receita fiscal e contributiva e de um quinto da receita das AP.

“Numa conjuntura de recuperação do consumo privado (5,8%), a receita bruta de IVA registou um crescimento expressivo de 11,6% em 2021. Deste modo, e não obstante os reembolsos pagos terem aumentado 6,3%, a receita líquida do imposto registou um incremento anual de 13,4%. Por conseguinte, a receita líquida de IVA respondeu por quase três quartos do aumento da receita anual dos impostos indiretos e por cerca de dois terços do crescimento da receita fiscal no ano de 2021”, assinala o Conselho das Finanças Públicas.

Este assinala que a dotação centralizada no ministério das Finanças correspondente ao IVAucher apresentou um grau de execução de somente 27,2%. Ou seja, dos 200 milhões de euros previstos foram executados 54,4 milhões, dos quais 6,9 milhões de euros se destinaram à própria operacionalização deste programa.

Recorde-se que o IVAucher, lançado há um ano, permitia a qualquer contribuinte poderá acumular o IVA gasto em alojamento, restauração ou cultura, entre os meses de junho e agosto, e utilizá-lo em forma de desconto - até 50% do valor da factura - entre outubro e dezembro em gastos nos mesmos setores.