Economia

CEO da Endesa ataca políticas de cortes em Espanha para as elétricas

O Governo espanhol espera colher ganhos adicionais de 2600 milhões de euros junto das elétricas

JOSE LUIS ROCA/GETTY

O CEO (presidente executivo) da Endesa, José Bogas, critica a ação do Governo espanhol de exigir às elétricas que entreguem os ganhos adicionais que tenham colhido por conta dos preços altos no mercado grossista. “Não nos podem obrigar a comprar a 200 euros o megawatt hora (MWh) e vendê-lo a 60”, afirma, em entrevista ao "Cinco Días".

O Governo espanhol espera colher 2600 milhões de euros junto das elétricas, que representam o ganho adicional que o executivo estima ter sido obtido por estas empresas ao vender energia renovável no mercado grossista ao preço do gás natural.

É que o mercado está desenhado de forma a que a última oferta a ser vendida determine o preço de toda a energia numa dada hora. Ora, as fontes de energia fóssil, como o gás, tendem a ser as últimas a ser colocadas no casamento entre oferta e procura, e têm determinado preços recordes da eletricidade na hora de esta ser comprada aos produtores pelas comercializadoras.

"Era razoável que nos fosse aplicado um corte se tivéssemos vendido ao preço do mercado grossista, mas não é o caso”, defende Bogas, que garante que tem vindo a vender eletricidade à indústria a preços “razoáveis”, e não ter quebrado nenhum contrato devido à situação nos mercados grossistas.

“O problema é que quando tivermos que renovar (os contratos), se a nossa geradora vende a 60 euros por MWh e nos cortam 90 euros o MWh, estaríamos a vender a -40 euros por MWh. Nesse caso, temos de ir ao mercado grossista e cobrar o preço”, continua.

Em 2021 e 2022, os contratos estão praticamente todos fechados com os domésticos e as indústrias, pressupondo um preço de pouco mais de 50 euros. Na renovação, o problema é comprar a 130 euros por MWh e vender a 60, mas Bogas espera conseguir chegar a soluções com a indústria através da assinatura de contratos a longo-prazo.

De acordo com o "El País", as empresas mais afetadas pela medida anunciada pelo Governo são a Iberdrola, Endesa e Naturgy, e as elétricas já falaram com a ministra da Transição Ecológica para manifestar as suas preocupações, solicitando que seja confirmado o caráter transitório destas medidas, para que não durem mais de seis meses.

O CEO da Endesa estima que dos 2.600 milhões a serem arrecadados pelo Governo, 80% recaiam sobre a Iberdrola e a Endesa, o que significaria um corte de 25% sobre o EBITDA (resultado antes de juros, impostos, depreciações e amortizações) de 4 mil milhões da Endesa. “Não teríamos prejuízos este ano, mas abalaria os resultados”, assinala.

Para a empresa, a solução passa por intervir no âmbito dos preços do gás. “Há que baixar, seja como for, os preços do mercado grossista, porque cerca de 30 a 40% da procura está indexada ao mesmo, e a esta não se pode baixar o preço”, indica o mesmo líder.