Economia

Consumo e investimento puxam crescimento da economia para um valor recorde do Portugal democrático

O Produto Interno Bruto português cresceu 15,5% em termos reais no segundo trimestre de 2021 face ao mesmo período de 2020. Contributo da procura interna foi "acentuado" depois do forte tombo do ano passado, indicam os dados do Instituto Nacional de Estatística, publicados esta terça-feira

Mourad Balti Touati

A procura interna - consumo privado, consumo público e investimento - impulsionou a economia portuguesa no segundo trimestre para o crescimento mais elevado desde, pelo menos, 1978. Conforme anunciado na estimativa rápida de 30 de julho, o Produto Interno Bruto (PIB) no segundo trimestre aumentou 15,5% face ao mesmo período de 2020 e o contributo da procura interna foi "acentuado", indica o Instituto Nacional de Estatística (INE), numa nota publicada esta terça-feira.

A autoridade estatística nacional lembra, contudo, que os números estão influenciados por um forte efeito de base, já que "as restrições sobre a atividade económica em consequência da pandemia se fizeram sentir de forma mais intensa nos primeiros dois meses do segundo trimestre de 2020, conduzindo então a uma contração sem precedente da atividade económica". Recorde-se que no segundo trimestre de 2020, o PIB caiu 16,4% em termos homólogos.

Para além deste efeito, a atividade económica em Portugal no segundo trimestre deste ano foi impulsionada pela reabertura do país, após o segundo confinamento geral no início do ano para travar a terceira vaga da pandemia de covid-19. E que levou a uma queda da economia portuguesa de 5,3% em termos homólogos.

Neste contexto, o contributo da procura interna para a variação homóloga do PIB no segundo trimestre deste ano "passou a positivo e foi acentuado", atingindo os 15,4 pontos percentuais, indica o INE. Valor que compara com -11,8 pontos percentuais no segundo trimestre de 2020.

O consumo privado (Despesas de Consumo Final das Famílias Residentes e das Instituições Sem Fim Lucrativo ao Serviço das Famílias) esteve em destaque, com um incremento, em termos homólogos de 17,5% (-6,6% no primeiro trimestre de 2021 e -14,4% no segundo trimestre de 2020).

Mas os aumentos expressivos estenderam-se ao consumo público e ao investimento.

O consumo público aumentou 9,8% em termos reais no segundo trimestre (variação homóloga de 2,8% no primeiro trimestre), indica o INE, lembrando que "o consumo público registou uma taxa de variação homóloga negativa no segundo trimestre de 2020 (-3,9%), traduzindo o impacto negativo na produção não mercantil em volume das medidas de confinamento, que implicaram o encerramento de vários serviços públicos".

Quanto ao Investimento passou de um crescimento de 3,9% no primeiro trimestre, para 10,5% no segundo trimestre deste ano (-10% no segundo trimestre de 2020). Neste capítulo, a Formação Bruta de Capital Fixo - o indicador-chave para analisar o investimento - cresceu 12,5% em termos homólogos, o que compara com um incremento de 4,2% no primeiro trimestre deste ano e uma queda de 8,6% no segundo trimestre de 2020.

Na frente externa, o INE aponta que no segundo trimestre a procura externa líquida apresentou um contributo nulo para a variação homóloga do PIB. Ainda assim, é uma melhoria face aos contributos negativos nos primeiros três meses deste ano (-2,2 pontos percentuais) e no segundo trimestre de 2020 (-4,6 pontos percentuais).

Isto porque as exportações de bens e serviços passaram de uma diminuição homóloga de 9,6% em termos reais, no primeiro trimestre deste ano, para um aumento de 39,4% no segundo (variação de -39,2% no segundo trimestre de 2020). Ao mesmo tempo, as importações de bens e serviços passaram de uma taxa de - 4,3% no primeiro trimestre de 2021, para 34,3% no segundo trimestre deste ano (-29,1% no segundo trimestre de 2020).

Desagregando a componente de bens da de serviços, o INE indica que as exportações de bens passaram de uma variação homóloga de 3,1%, no primeiro trimestre deste ano, para 41,3% no segundo, Já as exportações de serviços aumentaram 33,6% no segundo trimestre, após as acentuadas reduções registadas desde o início da pandemia (-52,2% no segundo trimestre de 2020), "sobretudo em consequência da forte contração da atividade turística".

Nesta análise do comportamento de exportações e importações em termos reais, o INE lembra que no segundo trimestre "verificou-se, em termos homólogos, uma perda nos termos de troca, depois de ganhos registados nos trimestres anteriores". Assim, o deflator das importações de bens e serviços aumentou 6,1% (variação homóloga de -1,5% no trimestre anterior), "tendo este comportamento sido influenciado, em larga medida, pelo crescimento pronunciado dos preços dos produtos energéticos". Já o deflator das exportações de bens e serviços registou um crescimento homólogo de 3,7%, após a variação de 0,1% no primeiro trimestre.

Analisando agora a variação em cadeia do PIB no segundo trimestre deste ano, ou seja, em relação aos primeiros três meses de 2021, o aumento atingiu 4,9% em termos reais, "mais que compensando a variação em cadeia negativa (-3,2%) observada nesse trimestre", vinca o INE.

A autoridade estatística nacional explica que "este resultado traduziu, em larga medida, o contributo positivo expressivo da procura interna (5,4 pontos percentuais) para a variação em cadeia do PIB, após ter sido negativo no primeiro trimestre". Além disso, "em menor grau, refletiu ainda um contributo da procura externa líquida menos negativo no segundo trimestre de 2021".