Economia

Grande devedor do Novo Banco diz não ter “património nenhum especial” mas admite ser dono de offshores

O empresário da Sogema, que tinha uma dívida superior a 500 milhões de euros ao Novo Banco, declarou não ter património relevante em nome pessoal mas admitiu ser beneficiário económico de uma offshore nas Ilhas Virgens Britânicas

NUNO BOTELHO

Bernardo Moniz da Maia será hoje um homem sem posses nem património relevante, de acordo com as informações que prestou aos deputados da comissão parlamentar de inquérito sobre o Novo Banco. "Em meu nome pessoal não tenho património nenhum especial. Tenho um carro que está em leasing", declarou Moniz da Maia, durante a audição em que foi chamado a explicar as dívidas de mais de 500 milhões de euros que tinha no Novo Banco.

Moniz da Maia declarou ter apenas dois leasings de um carro e um cartão de crédito, além de um aval dado ao BCP. E disse auferir "três mil e poucos euros" de uma das sociedades de que é administrador.

Numa audição marcada por diversas falhas de memória, hesitações e incapacidade de esclarecer as dúvidas dos deputados, Bernardo Moniz da Maia declarou que existe "uma pequena conta lá fora, na Suíça, arrestada pela justiça brasileira" e que não tem nada em nome de terceiros.

Moniz da Maia chegou a afirmar não ter nenhuma empresa sua no estrangeiro. Mas acabou por admitir mais tarde que afinal está ligado a uma offshore nas Ilhas Virgens Britânicas.

A deputada Mariana Mortágua confrontou Moniz da Maia com a existência de uma sociedade offshore nas Ilhas Virgens Britânicas chamada Rockville, tendo o empresário admitido que está ligado a essa sociedade, mas que a mesma é detida por uma fundação.

"Posso ser beneficiário económico", admitiu. "Não tenho presente a estrutura disso neste momento", disse ainda.

O empresário, que começou por dizer que só estava associado a uma fundação, acabou por admitir perante Mariana Mortágua que afinal está ligado a duas fundações, que estão sediadas no Panamá.

Bernardo Moniz da Maia recusou a ideia de ter "testas de ferro", mas admitiu que a sua família tem uma opção de recompra de uma empresa vendida há alguns anos no Brasil por 60 milhões de reais. "Truques como o seu, esta comissão já viu", chegou a comentar a deputada bloquista.

Na sua passagem pelo Parlamento, Moniz da Maia nunca assumiu responsabilidades próprias no colapso da Sogema e das suas empresas e na incapacidade de cumprir o respetivo serviço da dívida, primeiro com o BES e depois com o Novo Banco.

"O grupo Moniz da Maia nunca atuou de má-fé. Sempre pretendemos encontrar soluções para cumprir as suas obrigações na totalidade", defendeu-se no Parlamento.

Na audição, foi confrontado quer com a venda de ativos no Brasil antes de um processo judicial envolvendo uma empresa com negócios na área das florestas, quer com um aumento de capital em 2019 na portuguesa Euro Yser, que veio diluir a posição de credor do Novo Banco.

Bernardo Moniz da Maia admitiu que em várias empresas tem como sócio Pedro Teixeira de Melo, um dos empresários que participaram no aumento de capital de 2019 da EuroYser, operação que foi objeto de uma ação judicial do Novo Banco, por ter reduzido o valor das garantias que o banco tinha. Classificou-o como "conhecido", mas depois percebeu-se que é sócio em várias empresas do grupo familiar.

Deputados vão analisar audição

As respostas deixaram muita frustração nos deputados. Do PSD, Mónica Quintela chegou a deixar um pedido: “Peço que não dê respostas desse género”, queixando-se das respostas evasivas. Já antes, o colega de bancada Hugo Carneiro tinha feito o mesmo: “Pedia que fosse o mais completo possível nas suas respostas”. Eduardo Barroco de Melo, do PS, também: “Quero uma resposta objetiva”.

A deputada socialista que presidia à sessão, Isabel Oneto, quis relembrar Moniz da Maia de que, embora não prestasse juramento, é obrigado a dizer a verdade. No final, a deputada acabou a dizer que teria de ser analisado o que se passou na audição.

"Houve poucos esclarecimentos", considerou. “Há aqui bastantes falhas em termos de memória relativamente aquilo que era o objeto das questões aqui colocadas. Analisaremos essa situação”.