Bernardo Moniz da Maia, administrador da Sogema, que entrou nas contas do Novo Banco, em 2014, com uma dívida superior a 500 milhões de euros, responsabiliza o Novo Banco por ter inviabilizado soluções que permitissem uma recuperação da Sogema, e por ter aceitado vender os créditos sobre a família Moniz da Maia com um desconto de 90%.
Em audição na comissão parlamentar de inquérito sobre o Novo Banco, Bernardo Moniz da Maia defendeu que "a família Moniz da Maia nunca admitiu arriscar além do que podia" e "quando o BES pediu garantias adicionais a família acedeu a fazê-lo".
E Moniz da Maia imputou responsabilidades ao Novo Banco a partir de 2014, quando a Sogema entrou em incumprimento. O empresário diz que houve com o Novo Banco "inúmeras reuniões que em nada deram resultados". E culpa o banco por ter inviabilizado a continuidade das operações que a família tinha já iniciado no Brasil, em negócios florestais.
"O Novo Banco de forma incompreensível entendeu retirar-nos da operação do Brasil", acusou Bernardo Moniz da Maia, notando que se tornou então "muito difícil gerir os problemas".
"A publicidade negativa e a divulgação de crédito malparado criaram inúmeras dificuldades", apontou Moniz da Maia, referindo aos deputados que "não restou alternativa à família senão abrir mão das suas posições".
"Não compreendo que o Novo Banco tenha vendido a dívida da família por apenas 10% do valor", afirmou ainda Bernardo Moniz da Maia, aludindo à venda dos créditos da Sogema no pacote Nata II, comprado pelo fundo norte-americano Davidson Kempner.
O empresário lembrou que grande parte da dívida ao Novo Banco resultou de um financiamento de 368 milhões de euros dado pelo BES em 2007 para a família Moniz da Maia comprar 2,7% do BCP. "O BES estava seguro no financiamento. Na época o património da família ascendia a 500 milhões de euros", declarou Moniz da Maia, notando que a crise de 2008, com a queda do Lehman Brothers, acabou por desvalorizar as ações do BCP que serviam de garantia ao empréstimo do BES.
Na sua intervenção inicial no Parlamento, contudo, em nenhum momento Bernardo Moniz da Maia referiu que após a passagem das dívidas para o Novo Banco o seu grupo beneficiou de várias prorrogações de prazos de pagamento, redução de taxas de juro e perdões de juros vencidos.