Economia

BCE reforça compromisso de acelerar compras de dívida

O Banco Central Europeu decidiu esta quinta-feira reafirmar a estratégia definida, na reunião de março, de aumento significativo das compras de dívida

Sede do Banco Central Europeu em Frankfurt

O Banco Central Europeu (BCE) decidiu na reunião desta quinta-feira reafirmar a estratégia de aceleração durante o segundo trimestre das compras de dívida no âmbito do programa de emergência PEPP.

"Dado que a informação entretanto disponibilizada confirmou a avaliação conjunta das condições de financiamento e das perspetivas de inflação realizada na reunião de março dedicada à política monetária, o Conselho do BCE espera que as aquisições no âmbito do PEPP ao longo do atual trimestre continuem a ser conduzidas a um ritmo significativamente mais elevado do que nos primeiros meses do ano", refere o comunicado oficial.

Recorde-se que o envelope financeiro do PEPP dispõe de 1,85 biliões de euros, dos quais já aplicou, até 16 de abril, mais de 976 mil milhões de euros. Até março do próximo ano dispõe de um saldo de quase 900 mil milhões, que poderá ser usado na íntegra, ou não, ou até reforçado, de acordo com a estratégia de flexibilidade reafirmada uma vez mais na reunião desta quinta-feira.

Como refere o comunicado: "Se for possível manter condições de financiamento favoráveis com fluxos de compras de ativos que não esgotem a dotação no horizonte de aquisições líquidas ao abrigo do PEPP, a dotação não terá de ser utilizada na íntegra. De igual modo, a dotação pode ser recalibrada, se necessário, para manter condições de financiamento favoráveis, a fim de ajudar a contrariar o choque negativo provocado pela pandemia na trajetória da inflação.".

O BCE decidiu manter, nas suas próprias palavras, "a orientação muito acomodatícia da sua política monetária". Não mexeu no quadro de taxas de juro que estão em mínimos (nomeadamente, a taxa diretora em 0%) e não alterou as datas de execução dos atuais programas de aquisição de ativos, nomeadamente o PEPP até, pelo menos, março de 2022.

Reforço do financiamento aos bancos

O comunicado da reunião sublinha, ainda, o reforço do financiamento aos bancos da zona euro. "O Conselho do BCE continuará a proporcionar ampla liquidez através das suas operações de refinanciamento. Em particular, a mais recente operação da terceira série de operações de refinanciamento de prazo alargado direcionadas (TLTRO, na sigla em inglês) registou um recurso elevado a fundos". Desde o final de fevereiro, o montante de financiamento através das TLTRO subiu 300 mil milhões de euros, passando de 1,79 biliões no final de fevereiro para 2,1 biliões a 16 de abril o último dado disponível.

A atenção vira-se, agora, para a conferência de imprensa de Christine Lagarde a partir das 13h30 (hora de Portugal).

O BCE confronta-se com dois problemas: a subida dos juros de médio e longo prazo, apesar da intensificação das compras em março e abril, e o aumento de posições a favor da sinalização de uma desaceleração da política monetária.

Juros da dívida de médio e longo prazo subiram desde decisão de março

Apesar do aumento significativo nas compras mensais de dívida em março (mais quase 14 mil milhões de euros em relação ao montante de aquisições no mês anterior) através do programa de emergência PEPP (lançado em março do ano passado para responder à pandemia), os juros de médio e longo prazo na zona euro não desceram.

Pelo contrário subiram em toda a zona euro, particularmente nos prazos médios e longos, como se pode observar na curva dos juros médios de toda a dívida dos estados membros, atualizada diariamente pelo BCE.

No caso de Portugal, por exemplo, no prazo de referência, a 10 anos, as taxas no mercado secundário (onde se transacionam os títulos entre os investidores) subiram de 0,19% a 11 de março, aquando da reunião anterior do BCE, para 0,4% no fecho desta quarta-feira.

O custo de emissão de dívida portuguesa nos três primeiros meses do ano já subiu em relação ao mínimo de 2020: de 0,5% para 0,8%.

A subida dos juros da dívida levanta o problema da eficácia atual das aquisições massivas feitas pelo BCE no sentido de controlar o custo de financiamento da dívida de médio e longo prazo.

Ainda que o BCE não siga formalmente uma estratégia de controlo da curva de juros (como o Banco do Japão e o Banco da Reserva da Austrália), o efeito indireto dos programas de compra de ativos lançados desde a chefia de Mario Draghi tem sido a descida significativa da curva dos juros na zona euro, e em particular nos periféricos, como foi o caso de Portugal até ao início deste ano. Recorde.se que, em janeiro, o Tesouro pagou, pela primeira vez, um juro negativo num leilão de dívida a 10 anos.

Debate sobre a descontinuação da política expansionista está aberto na Europa

Klaas Knot, governador do DNB, o banco central dos Países Baixos, e conhecido como um dos 'falcões' do BCE, já preconizou o início da redução das compras através do PEPP a partir do terceiro trimestre deste ano.

Vários analistas europeus apontam a próxima reunião de 10 de junho, quando vão ser atualizadas as previsões macroeconómicas pelo BCE, como o momento-chave para uma discussão clarificadora dentro do Conselho sobre a desaceleração da política expansionista na zona euro.

Um banco na Europa está a ser considerado como o 'faról' da mudança. O Norges Bank, o banco central da Noruega, anunciou na sua última reunião em março que a taxa diretora (que está em 0%) deverá começar a subir gradualmente a partir do final do segundo semestre deste ano.

Além-Atlântico, o Banco do Canadá decidiu na quarta-feira reduzir o volume semanal de compras de títulos da dívida federal de 4 mil milhões (€2,7 mil milhões) para 3 mil milhões (€2 mil milhões) de dólares canadianos a partir de 26 de abril. A razão para esta desaceleração é a previsão de um crescimento de 6,5% em 2021, segundo as previsões do banco central, e uma subida da inflação em 2022 para o nível mais alto no intervalo entre 1% e 3% que serve de meta à política monetária canadiana.