Economia

CIP quer ensino até 6.º ano, cabeleireiros e livrarias a abrir para a semana e critica: “Portugal já desconfinou. Só não está a trabalhar!”

"É tempo de começar a refletir sobre o futuro, em vez de simplesmente suportarmos as agruras do presente", diz a confederação. E sobre o presente, sem esquecer a ameaça de crise económica que paira no ar, os patrões não podiam ser mais claros: "A economia está fechada. Portugal não está a trabalhar mas os Portugueses não estão a ficar em casa"

Rui Duarte Silva

"Esta poderá não ser a última pandemia das nossas vidas. E a realidade dos nossos dias mostrou que os países mais prósperos enfrentaram melhor a pandemia". A frase, no arranque de uma nota informativa da CIP - Confederação Empresarial de Portugal subordinada ao tema "o Processo de desconfinamento: Retomar a atividade em segurança!", dá o mote ao tom crítico sobre o quadro atual de um país onde "as empresas passaram o último ano a lutar para se adaptar a circunstâncias extraordinárias",

"Na CIP acreditamos que é tempo de começar a refletir sobre o futuro, em vez de simplesmente suportarmos as agruras do presente", diz a Confederação liderada por António Saraiva sem deixar de lado um tom crítico sobre o que se passa neste confinamento: "a economia está fechada. Portugal não está a trabalhar mas os Portugueses não estão a ficar em casa!

Ou, dito de outra forma, "Portugal já desconfinou.Só não está a trabalhar!", afirma.

A direção da CIP não esquece que o País e os portugueses "atingiram um elevado nível de fadiga pandémica" e considera que"a percepção do menor risco está em forte correlação com a menor adesão às medidas restritivas.

Afinal, “fique em casa!” não pode ser a solução única e milagrosa à actual fase da pandemia", sustenta.

"Seria muito grave para todos os Portugueses se depois de debelarmos esta ameaça da COVID, concluíssemos que tivemos uma “Vitória de Pirro”. Um confinamento cego e sem fim à vista, pode levar-nos a uma vitória sobre a pandemia, mas obtida a um custo muitíssimo elevado, com prejuízos irreparáveis, havendo outras alternativas"

António Saraiva, presidente da CIP
MANUEL DE ALMEIDA/Lusa

Retoma exige "medidas certeiras"


Assim, reafirma a importância de retomar de forma gradual a atividade económica e social, salientando que a pandemia deve ser devidamente controlada e que as suas consequências têm que ser mitigadas. Recorda, também, "que os locais de trabalho têm sido reconhecidos como locais seguros, sendo que as empresas têm tomado as medidas adequadas (desfasamento de horários, distanciamento, EPI, etc).

"Para Portugal ultrapassar o desafio da fase atual da pandemia afigura-se verdadeiramente essencial que sejam tomadas medidas certeiras em termos de testagem direcionada e desconfinamento", diz, sublinhando que, em linha com as recomendações do Conselho Nacional da Saúde, "apela à necessidade de Reabertura gradual da atividade económica dos diferentes setores",

E, para isso, elenca um conjunto de pontos a respeitar, da construção de um modelo de confiança e responsabilidade com os Portugueses, ao controlo da transmissão da infeção, com um programa de teste-rastreio-isolamento, orientações claras para o processo de desconfinamento e explicitação transparente da situação da vacinação contra a COVID-19.

Em termos práticas, explica, isso significa desde logo " falar verdade". "Ao alarmar, damos uma dimensão que não leva à racionalidade que os cidadãos devem ter para abordar o seu quotidiano e a luta contra a epidemia", fundamenta.

Apelo à paz social


Certa de que provavelmente, este novo coronavírus "vai continuar por anos" na sociedade e a resposta à pandemia não depende só da atuação do Governo, embora tenhamos consciência que nunca tantos dependeram das decisões de tão poucos". a confederação promete continuar a contribuir para garantir "a construção de uma Paz social, indispensável à recuperação económica".

Sobre o controlo da transmissão da infeção, com um programa de teste-rastreio-isolamento, considera essencial " medidas certeiras em termos de testagem direcionada e desconfinamento". Mais: O confinamento “inteligente”, apenas como medida de recurso, deverá assentar em dois pilares: um sistema eficaz de testar-rastrear-isolar e uma gestão adaptada ao contexto das medidas de prevenção: distanciamento social, uso de máscara, lavagem de mãos, etiqueta respiratória, limpeza e desinfecção de instalações e atenção aos sintomas sugestivos de COVID19 (tosse, febre ou dificuldade respiratória).

Para termos um país preparado, com testagens em larga escala, e medidas de quarentena e rastreamento, "o investimentos em capacidade de prevenção não podem continuar a ser desvalorizados". Se "as alterações das normas de testagem introduzidas recentemente pela DGS constituem uma evolução positiva para uma testagem mais abrangente e rápida identificação dos casos positivos,", os patrões apelam a que o objetivode aumentar de testes rápidos seja acompanhado pela devida agilização de procedimentos de modo que a generalidade das empresas e dos cidadãos possam aceder à testagem. "Devem criar-se as condições para uma testagem direcionada eficaz", argumenta.

E deixa algumas sugestões neste campo, da definição periódica do plano de testagem em cada concelho, de acordo com os níveis de risco e cadeias de transmissão conhecidas e definição das amostras a testar nas empresas, à disponibilização de unidades móveis com profissionais das ARS que se deslocam às empresas onde não seja possível operacionalizar a testagem de outra form

Nas empresas sinalizadas para rastreio ocupacional que não cumpram os requisitos para testagem nas suas instalações, a testagem deverá ser articulada, designadamente, com as Câmaras Municipais com uso das infraestruturas já existentes (ex: centros de vacinação COVID19para onde devem ser direcionados os colaboradores) e com recurso a parceiros externos.

Mas a possibilidade das Farmácias se associaram a esta frente de testagem, permitindo o livre acesso à testagem nestes locais, pelos seus profissionais habilitados.também é recomendada. E deverá ser implementado o recurso a testes TRAg com amostras de saliva, o que permite evoluir para um modelo de testagem massivo e menos invasivo.

E nas empresas com recursos de saúde ocupacional sugere-se colaboração com os seus responsáveis, " de forma a que as iniciativas de testagem sejam realizadas com a necessária articulação, não impactando com o desempenho da atividade (definição horários de testagem, amostras, populações de risco, RGPD, etc.)"

Relativamente às orientações claras para o processo de desconfinamento, a reivindicação é de um plano que que permita a reabertura em segurança das diversas atividades e a estabilização das perspetivas para os cidadãos e os empresários.

As 4 fases segundo a CIP

E a CIP apresenta a sua própria proposta, faseada, relembrando que "a retoma da atividade é vital para todos. A atividade económica tem que retomar para mitigar os efeitos da crise e do desemprego. As escolas têm que abrir porque está em causa a formação e desenvolvimento de mais de um milhão de crianças e jovens portugueses":


Fase 1 – a partir de 15 de março
- Reabertura de jardins infantis, creches e ensino até ao 6º ano, cabeleireiros, livrarias e alfarrabistas.


Fase 2 – a partir de 22 de março
- Flexibilização das regras do teletrabalho de modo que, havendo acordo entre trabalhador e entidade empregadora e estando garantidos testes prévios, se possa retomar o trabalho presencial em condições de segurança;
- Autorização do reinício da atividade de restauração e comércio a retalho até às 18h, com definição de taxas máximas de ocupação e plano de testagem periódica seguida de imediata quarentena dos seus colaboradores, a definir pelas autoridades competentes;


Fase 3 – a partir de 5 de abril
- reabertura dos restantes graus de ensino
- reabertura de museus, galerias, jardins zoológicos e botânicos
- abertura de teatros, concertos, óperas e cinemas, com lugares marcados e limitados
·- reinício de desportos coletivos amadores ao ar livre em grupos de até 20 crianças de até 14 anos de idade


Fase 4 – a partir de 12 de abril
- Reinício das restantes atividades até às 18h, com definição de taxas máximas de ocupação e plano de testagem periódica seguida de colaboradores

Vacinas para quem trabalha


Mas os patrões não esquecem, também, a importância do processo de vacionação para a recuperação do "nosso modo de vida" nem o facto de o país ter, agora, uma batalha em duas frentes para travar , na saúde e na economia.

"Importa por isso garantir que o Plano de Vacinação contra a Covid-19 é dinâmico, que se ajusta à dinâmica social e económica e, mais importante, que antecipa a retoma que a sociedade exige. Na prática, a progressão da vacinação no terreno tem de acompanhar, lado a lado, a abertura da economia, sob pena de comprometer o processo de desconfinamento", diz sem esquecer uma nota para a importância de continuar "a estudar as possibilidades de maior envolvimento de instituições e empresas portuguesas na produção e embalagem de vacinas contra a Covid-19" ou a adoção de "um Plano de Primavera que acautele a utilização das medidas de proteção individual contra a transmissão do SARS-CoV-2, mesmo após a vacinação".

"Acautelar que também as pessoas em contexto laboral sejam atempadamente vacinadas, a começar pelo que têm mais de 50 anos" é mais um pedido da CIP que quer ver reduzidas as barreiras de acesso às vacinas" para permitir uma recuperação célere dos impactos negativos da pandemia na rotina e no quotidiano das populações".