A News Corp, um dos maiores grupos de comunicação social do mundo, controlado pela família Murdoch, fechou um acordo histórico com a Google que garante “pagamentos substanciais” pelos seus conteúdos jornalísticos e abre um novo capítulo nas relações entre editoras internacionais e grandes empresas de tecnologia de informação.
O acordo que vem abrir uma nova etapa na campanha desenvolvida pelo grupo de media surge no momento em que a Austrália, onde estão as raízes do império da família Murdoch, prepara um projeto-lei para que plataformas como a Google e o Facebook paguem pela utilização de notícias de terceiros, sublinha o jornal Financial Times. É um código vinculativo para regular as relações entre os media tradicionais, a atravessar dificuldades financeiras, e as grandes tecnológicas que aparecem na primeira linha a captar receitas publicitárias.
Nesta fase, apesar de terem ameaçado deixar o país, as duas empresas tecnológicas estão apostadas em fechar acordos com editoras australianas, na tentativa de garantir acesso a conteúdos locais e, simultaneamente, tirar força à nova legislação que já começou a inspirar reguladores noutros países, designadamente na União Europeia, Reino Unido e Canadá.
Aliás, o acordo entre a Google e a News Corp anunciado esta quarta-feira não se limita ao mercado australiano, abarcando títulos do universo Murdoch noutros píses, designadamente o Wall Street Journal e New York Post, nos Estados Unidos, The Times e The Sun no Reino Unido.
“Até ao momento, nenhum outro editor de notícias chegou a acordo com a Google para diferentes países”, sublinha o Financial Times.
Numa reação a este acordo, Robert Thomson, presidente-executivo da News Corp, já veio sublinhar que o esforço para obrigar as plataformas a pagar pelo uso de conteúdo noticioso é uma causa que a empresa “abraçou com paixão” há mais de uma década.
“Estou grato por os termos desta relação estarem a mudar, não apenas para a News Corp, mas para todas as editoras”, diz o gestor. “Durante muitos anos fomos acusados de atacar os moinhos de vento das tecnologicas, mas esta campanha solitária, encarada como uma busca quixotesca, acabou por tornar-se um movimento em que o jornalismo e a sociedade saem a ganhar”, acrescenta.
Os termos do acordo de três anos abrangem pagamentos de licenciamento para conteúdos no News Showcase (a nova ferramenta que a Google apresentou como uma forma de incentivar o jornalismo e, apesar de ter semelhanças com o Google Discover, também tem diferenças, uma vez que não é o algorítmo da Google a selecionar os artigos, mas sim os próprios meios de comunicação), desenvolvimento de uma plataforma de assinaturas, partilha de receitas de anúncios e outros projetos de áudio e vídeo.
Em 2020, a Google comprometeu-se a gastar mil milhões de dólares (850 milhões de euros) em três anos na compra de conteúdos noticiosos e fechar acordos com editoras numa dúzia de países. E, diz a empresa, o News Showcase já tem parcerias com mais de 500 publicações em todo o mundo e espera anunciar mais parcerias em breve.
Europa e EUA seguem atentamente o caso
No caso da News Corp, apesar do valor do acordo não ter sido divulgado, fontes envolvidas nas negociações na Austrália, citadas pelo Financial Times, garantem que as somas agora em discussão são "várias vezes" superiores aos acordos assinados noutras partes do mundo.
O novo código de conduta em preparação na Austrália está a ser seguido atentamente na Europa e nos EUA, onde os reguladores procuram uma abordagem mais dura para redefinir o equilíbrio entre editoras e plataformas de tecnologia. Uma das medidas previstas é a criação de um sistema de arbitragem que tomará decisões vinculativas sobre as taxas a pagar pelo Facebook e a Google aos fornecedores de notícias no caso das negociações comerciais falharem.
Por apurar está ainda o impacto do acordo entre a News Corp e a Google nas negociações em curso na Austrália neste projeto lei e na sua implementação, mas a empresa também já assinou uma carta de intenções com a Nine Entertainment, outro grupo de comunicação social do país.