Economia

Transição energética: estará Portugal a fazer mais do que o que pode suportar?

Projetos Expresso. Mais uma terça-feira, mais um debate digital do projeto "50 para 2050", uma iniciativa do Expresso e da BP, para discutir as medidas de combate às alterações climáticas. Daqui a uma semana realiza-se a quinta conferência, a última do primeiro ciclo. É, novamente, às 11h00 no Facebook do Expresso, e o tema será a ‘Mobilidade Futura nas Cidades’

João Moleira, da SIC, conduziu, novamente, o debate do projeto 50 para 2050. Este quarto encontro contou com intervenções de Mira Amaral, Miguel Lobo, Otmar Hübscher, Pedro Amaral Jorge e Nuno Afonso Moreira (da esquerda para a direita)

E ao quarto debate, a polémica. Estará Portugal a tomar medidas de transição energética que não conseguirá suportar em termos económicos e de infra-estruturas energéticas? As opiniões dividiram-se em mais um encontro do projeto ’50 para 2050’, uma iniciativa do Expresso e da BP, que, no debate desta manhã, contou com Pedro Amaral Jorge, presidente da Associação Portuguesa de Energias Renováveis (APREN), Luís Mira Amaral, ex-ministro da Energia; Otmar Hübscher, CEO do grupo Secil, Miguel Lobo, diretor de desenvolvimento de negócios da Lightsource BP e Nuno Afonso Moreira, CEO da Dourogás. Estas são as principais conclusões.

A polémica, volume 1

  • A transição energética é um processo pesado que envolve muito investimento e vários sectores, não esta focado apenas nas energias renováveis, mas também na eficiência energética nos edifícios e na indústria, no armazenamento de energia, no hidrogénio verde e até numa melhor gestão dos resíduos florestais. É também um processo que provém de um compromisso assumido com a União Europeia (UE) e que, por isso, está alinhado com as metas europeias de neutralidade carbónica em 2050. Ou seja, há muito para fazer em 30 anos. Mas será que a economia portuguesa consegue suportar tudo isto?
  • O mote foi lançado por Mira Amaral. “A UE é um bloco que emite apenas 8% ou 9% do carbono mundial e Portugal emite apenas 0,11%. Se estivermos em linha com as metas europeias já é muito bom, já implica um esforço muito grande da economia. Devemos ser realistas e não querer ser líderes europeus. Não devemos exagerar e querer estar acima das metas europeias”, diz. O ex-ministro suporta esta opinião com a convicção de que Portugal foi “dos países da Europa que menos cresceu entre 2010 e 2019” e de, neste momento estar caminhar para ser “um dos países mais pobres da UE”. Porque, explica, “somos dos mais afectados pela crise provocada pela pandemia de Covid-19 porque o turismo tinha um peso significativo”.
  • Pedro Amaral Jorge refuta esta ideia de que Portugal está a fazer de mais. Para o presidente da APREN “a transição energética é uma oportunidade de captar investimento e criar um outro sector económico - não associado aos combustíveis fósseis - que, a par do turismo, possa contribuir para o PIB”. Além disso, realça, que os investimentos que estão planeados não vão ser “investimento público, mas sim privado”. Para Pedro Amaral Jorge não faz sentido não aproveitar os recursos naturais que Portugal tem e, ao mesmo tempo que se ajuda o planeta, ajuda-se a economia a crescer e a criar empregos. “Portugal a tem o maior potencial renovável do espaço europeu, uns 20% a 30% mais, e temos a capacidade de aproveitar esses recursos”.
  • Além disso, um dos recursos naturais que Portugal pretende usar mais nesta próxima fase da transição energética é o sol e, segundo Miguel Lobo, não só “o custo dos painéis solares desceu 20 vezes em 10 anos” como “em Portugal, o mesmo painel produz até 60% mais que, por exemplo, na Alemanha”, ou seja, há mais facilidade em captar investimento e, consequentemente, criar empregos.

A polémica, volume 2

  • Neste momento estão já previstos muitos projetos de instalação de painéis solares, mas segundo noticiou o Expresso recentemente, a Direção Geral de Energia (DGE) diz que podem ser demasiados ao ponto de a rede energética não estar preparada. Pedro Amaral Jorge assegura que essa questão não se colocará. “Haverá momentos do dia em que a produção pode ser superior ao consumo, mas o sistema electroprodutor não vai ser como antes e haverá muitas formas de aproveitar esse consumo em excesso, como o hidrogénio”.
  • O hidrogénio verde é outra das apostas da transição energética e “será uma das melhores soluções para a indústria, incluindo a exportadora, e para os transportes pesados”, diz Nuno Afonso Moreira. Mas para o CEO da Dourogás este é um processo que deve ser feito “devagar” porque, diz Mira Amaral, o investimento em hidrogénio ainda é muito elevado e, por isso, não é competitivo. Mais uma vez, Pedro Amaral Jorge considera que, com o aumento que está previsto para os preços cobrados às indústrias pelas emissões de carbono, aderir ao hidrogénio não ficará mais caro. Seja como for, “o hidrogénio não vai ser uma solução mágica para a indústria”, alerta Otmar Hübscher. Para o CEO da Secil, a indústria beneficiaria de um maior aproveitamento dos resíduos e de biomassa para produzir energia.