Os desafios que a saúde tem pela frente nos próximos meses foi o principal tema a debate no CEO Health Forum, um encontro dividido em duas partes. Na primeira, que foi transmitido no Facebook da SIC Notícias à tarde, estiveram José Gonçalves e Ana Sofia Marta, presidente e responsável pela área de Saúde & Administração Pública da Accenture Portugal, respetivamente; Paulo Cleto Duarte, presidente da Associação Nacional de Farmácias (ANF); Alexandre Lourenço, presidente da Associação Portuguesa de Administradores Hospitalares (APAH); Paulo Nunes de Abreu, do Hospital do Futuro e ainda Rui Mesquita, professor da AESE Business School. O arranque esteve a cargo de Kaveh Safavi, o responsável da área de saúde da Accenture, que deixou uma mensagem gravada. Já a segunda parte contou com a presença de Isabel Vaz, CEO da Luz Saúde; Salvador de Mello, CEO da José de Mello Saúde (grupo CUF); Luís Goes Pinheiro, presidente da Serviços Partilhados do Ministério da Saúde (SPMS); Vasco Antunes Pereira, CEO do grupo Lusíadas e ainda Germano de Sousa, administrador do grupo Germano de Sousa. Estas foram as principais conclusões do encontro.
Tratar dos doentes não Covid
- Para todos os intervenientes do encontro desta tarde, a prioridade dos sistemas de saúde, públicos e privados, já não pode ser a covid-19. Até porque, estima-se que, no final do ano, haja 12 milhões de consultas que ficaram por dar em Portugal.
- “O Serviço Nacional de Saúde (SNS) tem, rapidamente, de absorver a covid-19. O SNS não-covid tem de começar a funcionar, porque há muito atraso nas listas de espera e porque já não é uma novidade. É preciso encontrar o equilíbrio entre a covid e não covid e isso tem de acontecer rapidamente porque os hospitais já aprenderam e temos de dar essa prioridade ao paciente não covid”, diz Paulo Nunes de Abreu. “Na saúde não podemos deixar ninguém para trás”, diz Alexandre Lourenço.
- Para Ana Sofia Marta, o sector da saúde tem, desde que começou a pandemia, de lidar com três momentos distintos. O deles foi a respostas imediata ao virus; o outro é o que está a acontecer agora e que passa por esse equilíbrio entre covid e não covid e o terceiro é o futuro que tem de ser pensado já.
- “Temos reagido, mas tem de haver uma maior capacidade de antecipação”, comenta Paulo Abreu.
A importância da tecnologia
- O futuro da saúde passa, inevitavelmente, pela tecnologia, pela inteligência artificial e pela digitalização. Ela servirá para agilizar processos, permitir receitas online em vez de em papel, desinfectar quartos e áreas comuns, medir a temperatura, dar consultas online, promover o distanciamento social quando necessário ou mesmo ajudar a diagnosticar doenças. Mas, alerta Alexandre Lourenço, “O pior que pode acontecer é ter esta aceleração digital toda agora e depois perdê-la no pós-covid”.
- Mas será também a tecnologia uma das principais soluções para combater a grande falta de profissionais de saúde que já existe e que se vai agravar ainda mais.
- De acordo com Ana Sofia Marta, dados recentes da Organização Mundial de Saúde, antecipam que haverá 15 milhões de profissionais do sector da saúde em falta em 2030.
- Segundo Kaveh Safavi, a tecnologia permite criar equipamentos e robôs que cumpram algumas das funções que eram dos humanos e que, dessa forma, possam aliviar os profissionais de saúde para se dedicarem a outras funções mais relevantes, como a personalização dos cuidados de saúde.
- Para alguns, esta realidade pode levar a despedimentos, mas Rui Mesquita entende que “não será significativo”, precisamente porque o objetivo é o de auxiliar e não de substituir.
Tomar decisões mais rápidas
- “A tecnologia pode trazer os cuidados de saúde para mais perto do consumidor. Por exemplo, um utente pode ir á farmácia falar com um pneumologista e ter lá o farmacêutico a descodificar tudo, e isto pode ser feito amanhã, mas estamos presos numa máquina”, diz Paulo Cleto Duarte.
Telemedicina veio para ficar
- A telemedicina e as teleconsultas são consideradas pelos profissionais do sector como uma das melhores respostas à falta de pessoal, mas também à propagação do contágio, repara Vasco Antunes. Além disso, considera Salvador de Mello, “aproxima as pessoas”.
- “Se houve alguma coisa boa que esta pandemia trouxe foi que acelerou a adopção deste tipo de medidas e são uma arma muito importante de proximidade e não só numa lógica de pandemia”, diz Isabel Vaz.
- De facto, conta Luís Goes Pinheiro, “Portugal está a entrar de corpo e alma nas inovações”. Não só antes da pandemia, mas também durante, mostrando essa capacidade de dar uma resposta rápida. “A ferramenta de telesaúde do SNS foi lançada durante a cerca sanitária de Ovar”, lembra.