Há poucas semanas ninguém diria que o anúncio, pelo Instituto Nacional de Estatística, do défice de 2019 seria um momento vivido com tão pouca satisfação por Mário Centeno. O ministro das Finanças vinha batendo sucessivamente as suas próprias metas e já todos esperavam que o excedente chegasse um ano mais cedo, como, aliás, o Expresso já tinha avançado em fevereiro, quando isso mesmo foi admitido pelo secretário de Estado do Orçamento. Só que o melhor resultado orçamental português em tempo de democracia acontece numa altura em que a economia enfrenta uma das piores crises da sua história. O excedente ficou registado pelo Instituto Nacional de Estatística, mas Portugal vai voltar aos défices, como, aliás, Centeno sublinhou, a crise vai “facilmente fazer com que o saldo orçamental se venha a deteriorar em alguns pontos percentuais do PIB”.
Qual a dimensão da crise de que estamos a falar? Ninguém sabe com certeza. Mas há previsões, algumas bem pessimistas. É o caso, por exemplo, da Universidade Católica, que aponta para uma quebra do PIB entre 4% e 20%, o cenário extremo. Já o Banco de Portugal, no “Boletim Económico” publicado esta semana, avança dois cenários para a recessão: 3,7% e 5,7%. Em ambos os casos o desemprego dispara para os dois dígitos este ano e a economia volta a crescer em 2021. Mais rapidamente no cenário adverso, embora com um ponto de partida inferior.
No cenário base, “assume-se que o impacto económico da pandemia é relativamente limitado, o que decorre, em parte, da hipótese de que as medidas adotadas pelas autoridades económicas são bem-sucedidas na contenção dos danos sobre a economia”. No adverso, “o impacto económico da pandemia é mais significativo devido à paralisação mais prolongada da atividade económica em vários países, conduzindo a maior destruição de capital e perda de emprego” e que há “maior incerteza e níveis de turbulência mais significativos nos mercados financeiros”. São ambos valores centrais de intervalos de previsão, o que significa que a queda do PIB no caso mais negro do cenário adverso é superior a 5,7%. Na semana passada, num painel de economistas realizado pelo Expresso, havia quem falasse numa quebra do PIB na ordem dos 8,5%.
O impacto na economia vai depender, por um lado, da duração da pandemia e da forma como as empresas e as famílias forem afetadas, e, por outro lado, da resposta da política económica. O Governo português avançou esta semana com novas medidas (ver páginas 10-11), em particular a moratória dos créditos, e está a participar, a nível europeu, na discussão sobre os chamados coronabonds (ver texto em baixo).