O economista Vítor Constâncio, ex-vice-governador do Banco Central Europeu (BCE) acusa os alemães de pouparem em demasia, tendo, por essa via, responsabilidades no fenómeno das taxas de juros negativas nos depósitos. Em entrevista à revista "Der Spiegel", Constâncio defende que a culpa das taxas negativas não é do BCE.
Na entrevista, Vítor Constâncio diz não esperar que as taxas negativas nos depósitos que a banca tem no BCE se venham a estender aos depósitos no retalho. "Primeiro, não espero que haja taxas de juro negativas para os depositantes do retalho. E em segundo lugar, os bancos centrais e o BCE não estão sozinhos na tendência de baixas taxas de juro. Elas são baixas em todo o lado", comentou.
"Até há países como a Suíça e a Suécia, onde as taxas de juro da política monetária são mais baixas que as do BCE. Isto é o resultado de um fenómeno que os economistas designam como estagnação secular: nas economias desenvolvidas, há uma falta de procura agregada, ou, por outras palavras, um excesso de poupança face ao investimento", explica Vítor Constâncio.
Questionado sobre se isso significa que os alemães estão a poupar demasiado e a não investir o suficiente, Constâncio responde "sim". "Há sobretudo razões demográficas para isto: as pessoas estão a envelhecer e a poupar mais. Além disso, tem havido uma maior aversão ao risco entre os investidores desde a crise financeira. É por isso que procuram aplicações seguras".
Quanto à possibilidade de algum dia as taxas de juro voltarem ao patamar dos 3% a 5%, como há uma década, Vítor Constâncio diz querer acreditar que tal possa acontecer. "Mas para o alcançarmos, as empresas e governos terão de investir mais, de forma a aumentar a procura económica global. Os bancos centrais estão a tentar ajudar: querem estimular a despesa para que a inflação normalize. É o seu mandato", acrescenta.