A jogar em casa, o presidente da Câmara Municipal de Cascais admitiu não ser "um grande entendido em futebol" mas não teve medo de utilizar uma analogia ligada ao desporto: "Em Portugal passamos sempre a bola para o lado, somos especialistas em lateralizar." Carlos Carreiras falava da crónica tendência para nunca atacar os problemas a longo prazo e que fazem com que questões do urbanismo como a mobilidade, "o grande gargalo ao desenvolvimento das nossas urbes", não tenham a abordagem necessária.
Papel das entidades públicas que, por vezes, ainda deixam a desejar e que foi um dos temas recorrentes no IV Encontro Fora da Caixa, Economia = Mercado x (Conhecimento & Cultura), que se centrou na análise dos temas do urbanismo e das cidades do futuro. Nas palavras do administrador da ERA, Paulo Morgado, "o Estado deve legislar no sentido dos privados puderem trabalhar com mais liberdade." O Centro de Congressos do Estoril foi o palco desta edição do projeto que tem juntado CGD e Expresso para abordar temas económicos da atualidade.
"A legislação portuguesa não é má. O que é ruim é a burocracia. É algo que tem que ser ultrapassado", adiantou Benjamin Katz. O brasileiro adquiriu a marina de Cascais em 2013, estrutura que está agora a ser renovada pela Miguel Saraiva + Associados cujo presidente, Miguel Saraiva, falou de uma oportunidade para que Portugal tenha "um crescimento orgânico mas controlado." Crescimento que tem que ter em conta a questão da expansão urbana, com o secretário do conselho diretivo da Ordem dos Aquitetos, Miguel Varela Gomes, a garantir que a "mobilidade é uma coisa que está intimamente ligada com o conforto. Expansão com maus transportes é um flagelo."
No campo do imobiliário, Eric Van Leuven, sócio-gerente da Cushman & Wakefield, a referir que os €30 mil milhões que o sector movimentou em 2018 foi "um recorde absoluto" e que este ano a expectativa é que atinja "um valor semelhante." Para Francisco Horta e Costa, diretor Geral da CBRE, a "pergunta é em que é que os investidores não estão interessados", enquanto o presidente da Associação Profissional de Empresas de Mediação Imobiliária de Portugal, Luís Lima, garantiu que são necessárias "70 ou 80 mil casas para fazer face" e que não estão a ser construídas "nem metade."
O evento foi também assinalado com a gravação de uma emissão especial do programa da SIC Notícias, “O Estado da Nação”, moderado por Ricardo Costa em que os convidados fizeram um balanço da legislatura do atual Governo. Para Marina Costa Lobo, do ICS da Universidade de Lisboa, "só as próximas eleições vão mostrar se esta legislatura significou uma viragem para o parlamentarismo", ao passo que o professor do ISEG, Joaquim Miranda Sarmento deixou a opinião que "aquilo a que chamamos de geringonça aconteceu num contexto muito específico."
João Confraria, professor da Universidade Católica Portuguesa, lembrou que "a ideia que se tenha virado a página da austeridade não quer dizer que tenha acabado a austeridade" e o ex-ministro da Saúde, António Correia de Campos, aproveitou para dizer que, no que toca a 'truques' para mudar as contas, "há pecadores em todos os partidos."