Depois de um pico de crescimento de 2,4% em 2017, a economia da zona euro tem vindo a abrandar acentuadamente e a ampliar a distância em relação ao crescimento médio nas economias desenvolvidas.
O Fundo Monetário Internacional (FMI) avança esta terça-feira na nova edição do World Economic Outlook (WEO) com uma previsão de crescimento de 1,3% para a área da moeda única, a taxa anual mais baixa desde a crise de 2013. Um corte de seis décimas em relação à previsão anterior publicada em outubro do ano passado. E uma redução de cinco décimas em relação ao ritmo de crescimento verificado no ano anterior.
A ‘culpa’ desta revisão em baixa significativa é o pessimismo sobre a evolução de duas das grandes economias do euro, a Alemanha e a Itália, cuja herança de 2018 é pesada – a primeira registou uma contração no terceiro trimestre e estagnação no último trimestre e a segunda caiu em recessão, com dois trimestres seguidos registando uma queda da economia.
Abrandamento nos principais clientes portugueses
O FMI avança com uma redução do crescimento na Alemanha de 1,5% em 2018 para 0,8% em 2019, quase metade. No caso de Itália, no mesmo período, o crescimento desce de 0,9% para 0,1%, praticamente estagnação. Se o crescimento italiano for avaliado em paridade de poder de compra, o FMI refere que a economia transalpina contrairá 0,3%, sendo o único caso recessivo nas 16 maiores economias do mundo analisadas pelo FMI. As outras duas grandes economias do euro – França e Espanha - também desaceleram.
O abrandamento nas quatro grandes economias da moeda única, que são precisamente os principais clientes da exportação portuguesa, é um fator negativo a pesar sobre o crescimento português, que, de acordo com as previsões do FMI, deverá reduzir-se para 1,7% em 2019, abaixo do intervalo de crescimento de 1,9% a 2,1% admitido recentemente pelo ministro das Finanças Mário Centeno.
Desaceleração mundial: crescimento abranda para 3,3%
O contexto de abrandamento não é específico da zona euro. O FMI prevê que o crescimento mundial desacelere para 3,3% em 2019, uma descida de três décimas no ritmo anual em relação ao ano anterior. É o desempenho mais fraco desde 2016, quanto cresceu ao mesmo ritmo.
Christine Lagarde caracterizou esta situação como “um momento delicado”, e Gita Gopinath, a nova economista-chefe do Fundo, repetiu a mensagem na apresentação esta terça-feira do WEO em Washington. Mas é afastado o cenário de uma recessão mundial.
As razões da previsão de um solavanco em 2019 na economia mundial são conhecidas. O FMI enumera-as: guerra comercial entre os EUA e a China, a incerteza sobre o desfecho do Brexit, a incógnita sobre o efeito da resposta de Pequim ao abrandamento da sua economia, o stresse na Argentina e na Turquia, e a evolução das economias alemã e italiana. “Estas fraquezas deverão persistir no primeiro semestre de 2019, com um abrandamento do crescimento em 70% da economia mundial”, refere a economista-chefe. Mas “o crescimento deverá retomar na segunda metade do ano”, acrescenta Gopinath.
Este otimismo para o segundo semestre deriva dos pressupostos do cenário base que enforma este WEO. A equipa de economistas do Fundo acha que o quadro de taxas aduaneiras entre as duas maiores economias não sofrerá uma escalada, ficando pelos níveis anteriores à trégua. A política orçamental será expansionista nas economias desenvolvidas e na China em 2019. O preço do petróleo deverá descer 13,4%. O Reino Unido sairá da União Europeia com um acordo. O aperto na política monetária será moderado (o FMI admite que a Reserva Federal norte-americana decida uma subida da taxa diretora este ano, o que contraria as indicações do mercado de futuros, que apontam, pelo contrário, para a possibilidade de um corte) ou adiado (como decidiram o Banco Central Europeu e o Banco do Japão, nomeadamente).
O FMI admite que os pressupostos podem ir por água abaixo. “Há muitos riscos descendentes e, por isso, é imperativo que erros de política que fiquem caros sejam evitados”, adverte a economista-chefe do Fundo. Conclui que "a retoma é precária".
‘Planalto’ no crescimento a médio prazo
Depois de um pico de 3,7% em 2017 - o crescimento mais elevado desde o início vigoroso da retoma em 2010 e 2011 -, a trajetória da dinâmica mundial é descendente e o FMI antevê que estabilize num “planalto” (como designa) em torno de 3,5-3,6% em 2020 e nos anos seguintes. O que significa que o crescimento mundial não vai regressar aos ritmos de 4% e 5% de 2010 e 2011 e anteriores à crise financeira de 2008 (com exceção do abrandamento de 2001 e 2002, com a crise de crescimento da economia digital).
O abrandamento mundial fica marcado por uma redução do ritmo do crescimento do comércio mundial de 3,8% em 2018 para 3,4% em 2019, particularmente na dinâmica de importações por parte das economias emergentes e em desenvolvimento (sobretudo derivado da desaceleração na China e na teia de cadeias de valor onde participam estas economias).