"Quem comprar carros a diesel não terá valor de troca daqui a 4 anos", eis o aviso que o ministro do Ambiente, João Pedro Matos Fernandes, deixa ao mercado numa entrevista publicada esta segunda-feira no Jornal de Negócios.
O segmento a gasóleo é ainda o mais vendido em Portugal, apesar de estar em queda há cinco anos. Após atingir um pico em 2013, quando representava 72% das vendas de ligeiros de passageiros, em 2018 a categoria ficou com uma quota nos 55%, de um universo de 273.213 unidades.
As viaturas a gasolina evoluiram de uma quota de 30% (2008) para 39,3% no final de 2018. Os restantes combustíveis passaram de 1% para 7,4%. Mas, no mercado, tendo em conta o preço no momento de abastecer, ainda vigora a ideia de que "gasolina é para lazer e gasóleo para trabalho".
A ACAP reconhece uma mudança de paradigma e admite que a quota do diesel aproxime rapidamente dos 50%. Mas, em Portugal o abandono do diesel está a ser mais lento do que na generalidade Europa.Só a Irlanda nos bate na quota do diesel (65%).
Em 2018, As vendas de automóveis elétricos duplicou, mas representam apenas 1,8% da frota em circulação. Segundo a ACAP são 7771 os ligeiros elétricos em circulação, o que compara com com 3.698 no fim de 2017.
Não a incentivos para abate
Voltando à entrevista de Matos Fernandes. O ministro considera que não há necessidade de aumentar os subsídios para a aquisição de carros elétricos, nem conceder incentivos ao abate.
“A aposta que estamos a fazer é esta- incentivos ao abate dos diesel por troca por um elétrico", diz Matos Fernandes. "Não conheço nenhum país em que os subsídios sejam muito maiores: Portugal dá 2.250 euros por cada veículo elétrico novo. E está a desenvolver uma rede de carregamentos em todo o país, que ainda é gratuito”, refere o ministro.
O carregamento dos elétricos passará em breve a ser pago, devido aos “muitos problemas com a manutenção desses postos precisamente por serem gratuitos”, justifica o ministro.
Matos Fernandes considera ainda que não fará sentido comprar carro a gasóleo durante a próxima década. O ministro lembra que daqui “serão muito próximo os valores de aquisição de um carro elétrico e, se for carregado em casa, o preço do quilómetro fica a 15%”.
Leilões do solar vão ser lançados em junho
Na entrevista, o ministro do Ambiente anuncia o lançamento em junho de dois tipos de leilões de licenças de produção de energia solar "porque há dois tipos de produtores". E espera que nos leilões surjam "muitos investidores interessados e de dimensões diferentes".
O ministro diz que o Plano Nacional de Energia e Clima (PNEC) prevê a duplicação das fontes renováveis. "Hoje temos cerca de 7 gigawatts e queremos chegar a 2030 com 13 GW. As tecnologias que são mais baratas para produzir eletricidade são a solar e a eólica e temos mesmo de dar um impulso muito grande nestes dois domínios", defende o ministro, que quer reforçar no solar, com "um impacto ainda reduzido".
O ministro confia que nos leilões do solar "vão aparecer muitos investidores" porque estes leilões "dão garantias". Hoje "é possível produzir energia solar, com preços à volta dos 30 euros por MW/hora. Até 2030 as duas centrais a carvão serão descontinuadas. Estes leilões vão-nos dar garantia de termos eletricidade a entrar na rede em valor muito abaixo e com ganhos para os consumidores".
Neste negócio "cabe ao Estado criar condições para que ele se possa desenvolver com toda a justiça social e fiscal", diz Matos Fernandes.
Escassez de água
Apesar de não ser prioritária no âmbito do PNEC 2030, a energia hídrica permanece como fundamental. "Não tenho qualquer preconceito contra as barragens", diz o ministro.
Hoje, a parcela hídrica "é muito relevante nas energias renováveis, mas vai decair". Porque "a água vai ser cada vez menos e há usos mais fundamentais para a água, desde logo o consumo humano". E as barragens "provocam impactos ambientais com uma dimensão superior `das outras categorias. A decisão sobre se avança ou não a construção da barragem de Fridão será tomada em abril.
Na entrevista, Matos Fernandes faz o ponto da situação sobre a Contribuição Extraordinária sobre o Setor Energético (CESE), falando da "lealdade" da REN, que sempre pagou e contestou, perdendo a ação no Tribunal Constitucional.
A EDP chegou a acordo com o governo. E a Galp? Há diálogo com a Galp "sobre esta e todas as outras matérias, bem como com todos os outros grandes players do setor". Mas. ainda não houve acordo. A Galp "ainda olha muito para si como uma empresa do oil & gas e acho que é fundamental que se olhe como uma empresa de energia", diz o ministro.