ARQUIVO Iniciativa Poupança

É preciso imaginação

Endividamento. É preciso fazer muita ginástica para esticar o orçamento, e entre dívidas e cortes manter a poupança.

Isabel Vicente (texto), Tiago Miranda (foto) (www.expresso.pt)

Os portugueses não têm tido tarefa fácil na gestão dos seus rendimentos.

Quer os menos ou mais abastados, os que estão no ativo, os que estão no desemprego ou já reformados, ninguém escapa aos cortes para equilibrar as contas. É preciso muita ginástica para conseguir equilibrar as contas do país e das famílias. Mais difícil ainda é manter um nível de poupança que lhe permita algum descanso se for apanhado, ou já foi apanhado, pela teia do desemprego.

Nem todos foram responsáveis pela situação a que o país chegou, mas todos estão a pagar, uns mais do que outros. No caso dos reformados, o Orçamento do Estado (OE) para 2013 é de uma subtileza atroz: nem mesmo as prestações que vêm de aforro privado escapam aos cortes. Imagine que recebe uma reforma da Segurança Social, mas que fez um PPR e também daí recebe uma determinada quantia para complementar a sua pensão - essa parte também leva um corte (ver textos sobre o OE 2013 no Dossiê Mais Austeridade).

Como dar a volta aos cortes

Ninguém escapa. A grande questão que se coloca é saber como dar a volta a tantos cortes e reduzir a despesa de forma a que ainda haja folga, mesmo que pequena, para poupar. Entre as dívidas e poupanças - nas dívidas, as relativas sobretudo em crédito à habitação, cartões de crédito; nas poupanças a escolha entre depósitos, PPR certificados, seguros de capitalização - a gestão é cada vez mais difícil de fazer. Para muitos será mesmo impossível poupar durante os próximos tempos. Mas, porque é importante ter um pé de meia, deve pedir ajuda a quem sabe, ou fazê-lo através de ferramentas disponibilizadas nos sites dos bancos.

No final de setembro, o Instituto Nacional de Estatística (INE) dava conta de que o rendimento disponível das famílias (depois de impostos e de transferências sociais) havia caído 4,9% face a igual trimestre de 2011. Se recuarmos até igual período de 2010, o decréscimo de rendimento acumulado é ainda maior - 7,9%. Contas feitas por alto, nos últimos dois anos cada pessoa terá perdido em média cerca de €100/mês. No último ano, foram vários os fatores que para isso concorreram: aumento do desemprego, corte do subsídio de férias dos funcionários públicos e aumento de impostos. Para o ano, a dor será ainda maior. Além dos cortes e da redução dos escalões do IRS, as faturas estão todas a subir: é a luz, o gás ou o vaivém dos combustíveis entre outras faturas.

"Vão ser uns anos de mais aperto, vamos ficar todos mais pobres, ou já estamos todos mais pobres", diz um gestor de uma empresa do setor financeiro. Por isso, acrescenta, "a importância da poupança é cada vez mais relevante".

Poupar em quase tudo

Entre as várias dicas para poupar, a habilidade está na ginástica que tem de fazer, quer em termos físicos, para aguentar o stresse quer em termos intelectuais para fazer cortes cirúrgicos. Entre o rol de coisas onde talvez ainda possa reduzir a fatura a pagar no final do mês são referidos vários consumos: energia, combustível, roupa, nos colégios - levando de casa a alimentação para os filhos -, nas idas ao cinema, ao teatro, a jantares fora de portas com os amigos ou mesmo nos almoços. Hoje, é cada vez mais banal, nos locais de trabalho, o uso de marmitas transportadas nas velhinhas lancheiras ou nas mais modernas, verdadeiramente térmicas. O que ainda não se paga convém continuar a fazer: pode caminhar, correr e andar de bicicleta sozinho, com a família e amigos, entre outras atividades.

Mantenha-se atento

Para quem tem de emagrecer a dívida e manter algum nível de aforro, a reestruturação dos empréstimos surge como primeira linha de ataque, segundo um estudo da associação de defesa dos consumidores, Deco, divulgado em setembro. No estudo que espelha o perfil do sobre-endividado que pediu ajuda à associação, 20% das pessoas têm um curso superior e 27% completou o ensino secundário.

Os números de casos de endividamento mostram que o cerco está a apertar. Apesar da resiliência das famílias em assumir poupanças, torna-se imperioso o papel das autoridades e entidades financeiras na atração e sensibilização de que, mesmo fortemente penalizado, o aforro funciona como uma almofada importante nos momentos de maior dificuldade.

Evite ter de pedir ajuda. Para isso, identifique com tempo a sua situação para que não venha a engrossar os pedidos de ajuda que chegam ao gabinete de apoio ao sobre-endividado da Deco. Os pedidos subiram exponencialmente de 2010 para 2011 - de 2837 para 4288. E, só tendo em conta os dados relativos a setembro, já deram entrada 4010. Para este cenário, contribuiu, segundo a Deco, sobretudo, o desemprego, que já está nos 15,6% (mais de 800 mil) e ocupa a liderança entre os motivos. Mas, logo de seguida, aparece a deterioração das condições de trabalho. Divórcio, separação e doença são outras das causas.

Deve manter-se atento aos produtos de poupança que vão surgindo no mercado, compará-los e tendo em conta o seu caso específico, nomeadamente no que toca a hábitos de consumo, perceber como pode continuar a consumir e a poupar em simultâneo. Alguns bancos têm produtos dessa natureza. Mas não deixe de fazer contas para saber se, no final do dia, vale a pena este ou aquele produto.

Onde pode cortar despesa

Para saber melhor onde reduzir as suas faturas, convém ter uma ideia global das despesas. A banca disponibiliza nos sites ferramentas para que possa com alguma simplicidade fazer contas e saber se ainda pode cortar na eletricidade, gás, combustíveis, almoços, vestuário, entre outras despesas. A ideia é não ser apanhado ainda mais desprevenido, em particular pelo desemprego, cuja tendência é para aumentar. Em Portugal está nos 15,9% e abrange 800 mil pessoas.

Aplicações tradicionais

Para poder aplicar algum dinheiro, os depósitos e contas poupança são as mais utilizadas, até por uma questão de liquidez, mas verifique sempre se pode rentabilizar a sua carteira, dependendo do seu perfil, rendimento e nível de poupanças que pode deixar de lado.

Rendimento das famílias

Até setembro, o rendimento disponível das famílias (depois de deduzidos os impostos e transferidas as prestações sociais) caiu 4,9% face a igual mês de 2011. A perda acumulada desde o segundo trimestre de 2010 ascendeu a 7,9%. É preciso ajustar orçamento.