Mais de metade dos portugueses (56,8%) associam a reforma a um aumento das dificuldades económicas e pessoais e 42,4% esperam mesmo baixar o nível de vida durante a reforma. Ao mesmo tempo, 59% das pessoas manifestam pouca ou nenhuma confiança em que a Segurança Social ainda esteja a funcionar adequadamente quando saírem do ativo. Estas são algumas das conclusões do "Inquérito sobre opiniões e atitudes dos portugueses face à poupança/reforma", promovido pela Fidelidade Mundial, em parceria com o ISCTE, e aplicado a uma amostra de 1000 inquiridos, entre os 20 e os 65 anos, representativos da população do continente.
Os resultados mostram que "o reconhecimento do problema está feito", aponta António Caetano, professor do ISCTE e coordenador deste estudo. "As pessoas estão mais alerta face a 2008", quando se realizou a primeira edição deste inquérito.
Contudo, metade dos inquiridos praticamente não pensa sobre os anos de reforma. Mais: dois terços das pessoas (66,6%) nunca fizeram, nem estão a fazer, qualquer poupança voluntária para a reforma (além dos descontos obrigatórios para a Segurança Social). E, mesmo quem poupa, poupa muito pouco: 55,5% daqueles que já fizeram ou estão a fazer algum aforro visando a reforma poupam menos de 10% do seu rendimento líquido. Números que mostram que a maioria dos portugueses ainda não constrói alternativas à pensão garantida pela Segurança Social. Ou porque não querem, ou porque não podem.
O estudo conclui que o problema é duplo. Em primeiro lugar, os inquiridos revelaram baixa motivação para a poupança: 68,4% dizem não estar dispostos a sacrificar a felicidade ou bem-estar imediatos para atingir resultados futuros. Em 2008, apenas 34% manifestaram esta opinião. "Há uma grande pressão social para viver o momento presente", destaca António Caetano.
Em segundo, "o rendimento da maioria das pessoas é baixo, constituindo um fator inibidor da poupança", frisa António Caetano. O inquérito não deixa margem para dúvidas. Depois de pagar todas as despesas fixas contratadas (como água, luz e casa), 50,4% das pessoas ficam com 10% ou menos do seu rendimento líquido mensal disponível. E, para outros 11%, esta parcela fica nos 20% do rendimento. Face a 2008, "há uma diminuição geral do rendimento líquido disponível", frisa o estudo. Mesmo assim, 27% dos indivíduos que consideram ser difícil viver com o rendimento atual poupam para a reforma.
59%
confiam pouco no futuro da Segurança Social
50%
gastam 90% do rendimento para pagar as despesas fixas
68%
não estão dispostos a sacrificar o bem-estar imediato
Texto publicado no caderno de economia do Expresso de 29 de outubro de 2011