ARQUIVO Guerra às quartas

Assalto ao castelo

A guerra de cerco medieval era tecnologicamente sofisticada, longa e cara.

Rui Cardoso (www.expresso.pt)

A ideia que temos de um cerco medieval inspirada pelos filmes de aventuras pouco tem a ver com a realidade histórica. Quer do lado dos sitiantes, quer do lado dos sitiados, recorria-se a táticas e artefactos com algum grau de sofisticação, muitos dos quais já usados, muitas centenas de anos antes, pelas legiões romanas ou pelos exércitos assírios.

Foi esta uma das ideias transmitidas na sessão de encerramento do V Curso de História Militar promovido pelo Centro de História da Universidade de Lisboa (Faculdade de Letras), sob o lema Arcos, Bestas e Máquinas de Assalto no Mundo Medieval. Foi conferencista o docente e investigador daquela faculdade José Varandas que também coordenou o curso.

"Quando um soldado sitiante era erguido até ao topo de uma escada de observação, estava a fazer o que um oficial de artilharia faria nos tempos atuais a bordo de uma aeronave, ou seja, ver a posição inimiga de cima, avaliar estragos, corrigir o tiro, etc".

Esta observação de José Varandas foi feita a propósito da vasta panóplia de equipamentos que havia dos dois lados da guerra de cerco.

Para dificultar o avanço das torres de assalto dos atacantes havia valas e buracos no chão. O fosso e o talude que dificultavam a aproximação às muralhas eram anulados pelo laborioso trabalho dos sapadores, protegidos por tartarugas e manteletes.

O campo de tiro de cima para baixo proporcionado pelas muralhas e torres era anulado por dispositivos engenhosos como o toleno, espécie de grua que levantava à altura do castelo um cesto cheio de arqueiros, fundibulários e atiradores de dardos, "cuja esperança de vida não devia ser das maiores".

Muito do que associamos à guerra moderna estava lá. A componente psicológica, com a exibição ou massacre ritual de reféns ou prisioneiros. Ou a humilhação dos sitiantes através do lançamento de esterco a partir dos matacães (aberturas para defesa vertical). Guerra bacteriológica também: as catapultas lançavam restos de homens ou animais para provocar epidemias no campo inimigo.

Em resumo, "a guerra de cerco, para além de ser sofisticada tecnologicamente, era cara, lenta e extremamente dispendiosa em homens, dinheiro e material", como destacou o conferencista.