Chegou à Câmara de Nova Orleães em 2006. A tragédia do Katrina motivou-o a entrar na política? Estávamos todos muito motivados para trabalhar depois de tudo o que se tinha passado. Acreditávamos que a cidade precisava de uma nova liderança. O meu papel como presidente do "City Council" de Nova Orleães é dotar a cidade de leis que permitam uma rápida recuperação. Dadas as circunstâncias, fomos obrigados a trabalhar muito e rápido.
Clique para aceder ao índice do DOSSIÊ KATRINA 2005/2010Como estava Nova Orleães à data que tomou posse, um ano depois do Katrina? O que mais o impressionou nesse tempo? Antes de ser eleito para a Câmara, fui durante vários anos membro da direcção dos "New Orleans Saints", a equipa de futebol americano que este ano sagrou-se campeã nacional. O meu trabalho junto da comunidade sempre foi intenso. Após a tragédia do Katrina, lembro-me de regressar à cidade em Dezembro de 2005 e de não haver luz nas ruas. Os poucos que regressavam deparavam com casas destruídas e uma vizinhança desmantelada. O que mais se destacava eram as pilhas de entulho e o cheiro nauseabundo. Mas era impressionante o activismo cívico. A partir de Novembro de 2005 começou a haver reuniões diárias de moradores, que em cada um dos seus bairros organizavam-se para trabalhar em prol da comunidade.
O que é que foi feito desde então? Há boas notícias entretanto? Acima de tudo, as pessoas decidiram que a cidade tinha de melhorar. O sistema escolar é um bom exemplo disso, com a construção de uma série de novas escolas, com mais segurança, e com um novo espírito de serviço. Hoje por exemplo qualquer pai pode decidir pôr os seus filhos onde quiser, em qualquer ponto da cidade. As melhores têm mais procura. Esta pequena medida aumentou imenso a concorrência entre as escolas e por consequência a qualidade do ensino. Outro exemplo é a economia que se diversificou. Até há uns anos, havia demasiada dependência do Turismo e da Energia. Hoje apostámos noutros sectores, como a saúde, com a abertura de um centro médico na cidade composto por três novos hospitais e vários centros de investigação. A cidade também ficou mais honesta, basta olhar para os cadastros de muitos dos políticos que a serviram nas últimas décadas para perceber o que estou a dizer. Hoje, finalmente, já se podem fazer bons negócios por aqui.
Que tipo de trabalho está a ser desenvolvido ao nível do sistema de diques que protege a cidade? Nova Orleães está mais segura. O sistema de diques tem agora uma resistência de 100 para 1, isto é tem uma probabilidade de ceder uma vez em cada 100 mega tempestades. Estará completo no próximo ano. Não é perfeito, mas mesmo assim é muito melhor do que estava. Desconheço qual era a capacidade anterior, mas certamente seria bastante menor. O nosso objectivo é atingir uma resistência de 10.000 para 1, idêntico ao sistema de diques na Holanda. Melhorámos muito porque percebemos que não podemos apenas contar com a ajuda do Governo.
O General Honoré, o comandante que liderou as operações de socorro em 2005, garantiu-nos que Nova Orleães continua vulnerável. Partilha este pessimismo? Estamos muito melhores. Ainda há dois anos fizemos um simulacro em que evacuamos toda a cidade e correu tudo muito bem.
Os grupos de voluntários também se queixam de falta de apoios. Reconhece a sua importância? Pretende fazer alguma coisa para que eles não acabem por se ir embora? Temos uma enorme dívida de gratidão para com os voluntários. Mas é normal que com o tempo as doações diminuam, até porque há que perceber que a atenção dos media dispersa-se. Ainda assim é impressionante ver o número de voluntários que continua a aparecer para ajudar (ver texto publicado na quinta-feira).
Que lições ficaram com a passagem do Katrina? Existem várias... Olhe por exemplo a vida pode mudar num minuto. Lembro-me perfeitamente que, na sexta-feira anterior ao desastre, a cidade estava, como é costume, em festa. Tudo absolutamente normal. Sem dúvida que com tudo isto aprendemos a apreciar a vida melhor. Mas para mim a grande lição que fica é que devemos julgar uma cidade pela forma como a comunidade trata dos mais desfavorecidos. Nesse aspecto Nova Orleães mostrou toda a sua grandeza.