ARQUIVO Sismos em Portugal

250 anos do terramoto de 1755

A primeira catástrofe moderna faz exactamente 250 anos no próximo 1 de Novembro. A origem do terramoto de 1755 continua a ser um enigma para os cientistas. Clique para visitar o dossiê Sismos em Portugal

(www.expresso.pt)

A polémica mantém-se e já chegou às páginas da revista "Science", mas, por enquanto, só existe algum consenso quanto à localização da principal rotura que provocou a catástrofe. Ela tem um nome bem sugestivo: Falha Marquês de Pombal.

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Ainda no dia dos horrores, em que o fogo e a água se juntaram à terra para destruir Lisboa e uma parte do país, o Governo, no qual se distinguiu o ministro Carvalho e Melo, deu as respostas necessárias com a rapidez que a situação exigia: "Enterrar os mortos, cuidar dos vivos". Evitar a propagação de doenças, tratar dos transportes e do acesso às zonas do desastre, do abastecimento da população atingida, da segurança. Eis as questões logísticas que, com algumas diferenças, se põem hoje às comunidades humanas concentradas em grandes metrópoles, seja em Nova Orleães ou em Islamabade.

E, depois, é preciso recomeçar. Tal como aconteceu em Lisboa, onde ressurgiu uma cidade voltada para o futuro, inovadora, no ambiente cultural que se criou e até na construção anti-sísmica, outro sinal da evidente modernidade pós-1755. Essa construção surgida na Baixa lisboeta, património que hoje volta a ser ameaçado pelas alterações feitas às estruturas dos edifícios, as chamadas "gaiolas" pombalinas. De tal maneira que muitos especialistas consideram não estar Lisboa e outras regiões do país, como o Algarve, preparadas para um grande terramoto.

A nossa legislação anti-sísmica é uma das mais avançadas da Europa, mas a sua aplicação depara-se com um problema: a fiscalização. As autarquias não têm meios para a fazer em condições, não havendo por isso garantias de segurança, mesmo na construção nova. E nas obras de reabilitação há simplesmente um vazio legal, o que permite tudo, desde o uso de materiais inadequados à supressão de paredes e pilares, ou ao corte das barras de madeira dos edifícios "gaioleiros". Por isso, numa simulação do Laboratório Nacional de Engenharia Civil feita para o EXPRESSO de um sismo como o de 1755, os resultados foram catastróficos. Nas regiões de risco mais elevado - a Área Metropolitana de Lisboa e o Algarve - registaram-se mais de 25 mil mortos e o colapso de 25 mil edifícios. Mas num cenário em que o parque habitacional estivesse em bom estado de conservação, estes danos reduzir-se-iam a metade.

Texto publicado na edição do Expresso de 22 de Outubro de 2005