ARQUIVO Crise em Timor-Leste

Ramos-Horta acolhido com aplausos e danças

O Presidente de Timor-Leste regressou ao seu país rodeado de fortes medidas de segurança.

O Presidente de Timor-Leste, José Ramos-Horta, regressou ao seu país depois de dois meses na Austrália para se tratar dos ferimentos sofridos num atentado. No aeroporto de Díli, Ramos-Horta era aguardado, entre fortes medidas de segurança, pelo primeiro-ministro Xanana Gusmão e pelo antigo chefe do governo Mari Alkatiri. Populares saudaram o regresso do Chefe de Estado com aplausos e danças tradicionais.

Na viagem entre Darwin e Díli, o presidente foi acompanhado por 24 pessoas, incluindo os embaixadores da Austrália em Dili e de Timor-Leste na Austrália.

O bispo norueguês Gunnar Stalsettgg, o filho Loro Horta, o médico pessoal, Rui Araújo, jornalistas e familiares acompanharam também o Presidente de Timor-Leste.

No ataque à sua residência pelo grupo do major Alfredo Reinado, a 11 de Fevereiro, José Ramos-Horta foi ferido com balas que lhe rebentaram a parte inferior do pulmão direito "e abriram um buraco negro de quase um palmo nas costas", como recordou à agência Lusa uma das irmãs do Presidente, Rosa Horta Carrascalão.

"O anestesista da clínica australiana do heliporto disse-me mais tarde que, quando mudaram o meu irmão da sala de anestesia para a sala de operações, ele estava a morrer. A cara estava toda azul", contou Rosa Horta Carrascalão.

"Se a ambulância tivesse demorado mais uns minutos ou se o tivessem levado para o hospital central, o Presidente estaria morto", acrescentou.

"Tenho duas costelas soltas, a décima e a décima primeira do lado direito, que foram separadas da coluna por uma bala", contou Ramos-Horta à agência Lusa.

"Também fiquei com três estilhaços cá dentro. Um dia, talvez sejam expulsos naturalmente pelo corpo", disse Ramos-Horta ao explicar as dores que ainda sente, "um desconforto" para o qual continua a ser medicado.

As costelas suspensas e, sobretudo, o facto de as balas terem atingido dois nervos vitais na região abdominal acentuam as dores na posição sentada. "Não posso estar muito tempo sentado", explicou o Presidente.

O atentado tem ainda contornos por esclarecer. Ramos-Horta disse à Lusa que "não foi mão timorense", repetindo a sua convicção de envolvimento estrangeiro.

Marcelo Caetano, o militar que o Presidente reconheceu como sendo o autor dos disparos que o atingiram, é, assim, "uma mão que teve uma mão por trás".

"Alfredo Reinado e Angelita Pires (assessora legal do major) tinham uma conta em conjunto, com um milhão de dólares, aqui na Austrália", disse, citando a informação que lhe foi prestada pela Polícia Federal Australiana.

Acredita também que "elementos ligados aos Kopassus indonésios", as forças especiais com uma longa história durante a ocupação de Timor-Leste, estiveram ligados ao 11 de Fevereiro.

José Ramos-Horta volta a um país ainda com rebeldes à solta mas diz que não tem medo que alguém lhe faça mal. "Nunca tive. Mesmo em 2006 (ano da crise institucional e de segurança em Timor-Leste), ia a todo o lado, até onde havia tiros. Às vezes diziam-me, depois, que tinha sido uma loucura", contou.

O Presidente vai voltar para a casa onde tudo aconteceu, em Metihaut, e diz ter consciência de que o que se passou a 11 de Fevereiro pode voltar a acontecer. "Pode. Mas eles não voltam duas vezes ao mesmo sítio", rematou.