Tem conhecimento de alguma ligação entre grupos a actuar em Timor-Leste e grupos a actuar na Indonésia? Temos conhecimento - quer a presidência da República quer os nossos serviços de informação - de que o senhor Alfredo Reinado, assim como o grupo do senhor Gastão Salsinha, tentava aliciar apoios na Indonésia, junto de certos elementos militares da Indonésia, assim como do sector privado indonésio, que tem fortes ligações com os militares.
Sabe se algum desse apoio foi dado ou fornecido? Acreditamos que todo o equipamento que o senhor Alfredo Reinado tinha na sua posse - fardamento, telefones, outros meios de comunicação - vinha da Indonésia.
Acredita que isso possa incluir uma ligação a militares ou empresários indonésios? Militares e empresários indonésios. Militares na sua qualidade individual e não a instituição TNI - e muito menos o Estado indonésio.
Mas de que militares é que está a falar? Militares que tiveram ligações com Timor-Leste mas na sua capacidade individual e não enquanto instituição das forças armadas.
Sabe algum nome desses militares? Ainda não. As investigações estão a decorrer. Os indícios são muito fortes e enquanto as investigações decorrem esperamos colaboração das autoridades indonésias. O Estado timorense tem óptimas relações com o Estado indonésio, ao mais alto nível, e sei que haverá total colaboração por parte das autoridades indonésias para investigar e punir as pessoas privadas ou militares ou ex-militares que tenham estado envolvidos no apoio ao senhor Reinado.
E o que sabe das ligações de Alfredo Reinado com Hércules, uma figura conhecida em Jacarta? Tiveram ligações. Se o senhor Hércules o apoiou financeiramente ou não, não sei, mas o senhor Hércules é conhecido como sendo hoje um homem abastado, com muito dinheiro na Indonésia. Começou a sua carreira como líder de gangues e afirmou-se muito nos bas-fond de Jacarta e tem fortes ligações com militares.
O senhor presidente não recebeu o senhor Hércules em Janeiro, numa visita oficial a Timor? Não, não o recebi. Soube de uma possível visita dele mas não o recebi. Estive com ele apenas uma única vez, na visita oficial que eu fiz a Jacarta. Ele estava entre 100 convidados timorenses, num encontro comigo. Ele lá compareceu. E identificaram-no como senhor Hércules. Foi apenas um aperto de mão. Nem sequer conversei com ele.
Estes factos de que estamos a falar - das ligações do grupo de Reinado a militares indonésios -podem afectar as relações diplomáticas com o actual governo indonésio? De forma alguma. Eu tenho uma relação pessoal muito forte com o presidente Susilo Bambang Yudhovono. As relações são de total confiança e qualquer envolvimento de um cidadão indonésio não tem o aval do estado indonésio. Tenho a certeza que as autoridades máximas indonésias não estavam a par e se houver mesmo provas conclusivas de que estiveram envolvidos (militares) eu sei que o Estado indonésio vai tomar medidas. Porque a Indonésia não é um país do tipo da Birmânia, que se permite a fazer coisas dessas - conluio para destronizar outro país. É membro do conselho de segurança, é um país com muito orgulho de si próprio. E no passado, mesmo durante a nossa luta pela independência, a Indonésia nunca optou por tácticas como países como o Iraque, o Irão, a Síria fizeram - de assassinarem dissidentes fora do próprio país. Embora liquidasse internamente os seus opositores, nunca uma única vez o regime de Suharto se envolveu em actividades que visassem liquidar oponentes fora do país. Portanto, eles tinham muita preocupação em não fazer acções que possam ser consideradas acções terroristas. Mais ainda com o actual regime democrático. Mas a Indonésia é um país com 240 milhões de habitantes. Há pessoas indonésias com ligações a Timor-Leste que vêm do passado da ocupação e alguns deles podem ter estado envolvidos no apoio ao senhor Alfredo Reinado.
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