ARQUIVO A revolta dos monges

Visita de Gambari soube a pouco

Os resultados da segunda visita de Ibrahim Gambari à Birmânia não foram um sucesso, mas o facto de Aung San Suu Kyi se ter mostrado disposta a colaborar com a junta militar foi uma pequena vitória.

Pedro Chaveca

Chegou hoje ao fim a visita à Birmânia do enviado especial da ONU, Ibrahim Gambari.

Embora se tenha encontrado com a líder da oposição e do partido Liga Nacional para a Democracia (LND), Aung San Suu Kyi, e com alguns membros da junta militar que governa o país, entre eles o primeiro-ministro, Thein Sein, o diplomata nigeriano não conseguiu encontrar-se com o general Than Shwe, líder da junta.

Ainda assim a ONU sublinhou que foram feitos progressos: "O processo que iniciámos está a evoluir e levará a um importante diálogo entre o governo e Aung San Suu Kyi como um meio para se atingir a reconciliação nacional", podia ler-se numa declaração tornada pública logo após a saída de Gambari do país asiático.

Suu Kyi disponível para cooperar

Aung San Suu Kyi terá confirmado a Ibrahim Gambari que está disponível para cooperar com os generais: "No interesse da Nação, estou disponível para cooperar com o Governo a fim de que este processo de diálogo seja um sucesso", assegurou a líder da oposição numa declaração lida pelo nigeriano na sua chegada à Tailândia. Embora não se saiba do que constará a cooperação, a junta militar já premiou este voluntarismo com uma autorização para que a Nobel da Paz se possa encontrar com outros membros da LND, o que já não acontecia há três anos.

Gambari que foi convidado a regressar à Birmânia nas próximas semanas, para continuar a mediar o processo de reconciliação encontrou-se ainda com outros membros da LND na nova capital birmanesa, Naypydaw.

Na quarta-feira foi a vez do diplomata se desdobrar em encontros com os vários generais que governam o país, entre eles o primeiro-ministro, Thein Sein. Contudo o muito desejado encontro entre Gambari e o líder da junta militar, Than Shwe, não foi possível, os motivos para tal falhanço diplomático também não foram avançados.

Interferência exterior não será tolerada

Embora as Nações Unidas já tivessem tornado público que um retrocesso no processo de reconciliação seria "insustentável", o ministro birmanês da informação, general Kyaw Hsan, garantiu a Gambari que a junta não irá tolerar qualquer interferência "exterior" e que "neste momento não será possível uma reunião tripartida [Gambari, Suu Kyi e Junta]".

O ministro da informação foi ainda mais longe seus comentários e deixou uma sugestão: "Se quiserem ver a democracia florescer na Birmânia, devem tentar fazer com que as outras nações colaborem connosco. Veremos com bons olhos toda coordenação e cooperação entre o nosso e outros países, mas nunca toleraremos qualquer interferência que ponha em causa a nossa soberania", declarou o militar ao jornal estatal "Nova Luz de Mianmar" [nome adoptado pela junta para a Birmânia].