Foi hoje levantado o recolher obrigatório que estava em vigor na Birmânia desde os confrontos do passado mês de Setembro. A confirmação foi dada por um porta-voz do governo e não podia ser mais clara: "O recolher obrigatório terminou. A medida torna-se efectiva a partir de hoje".
A medida estende-se às duas maiores cidades do país, Rangum e Mandalay. Contudo desconhece-se se a proibição de reuniões com mais de cinco pessoas se mantém, ou se o acesso à Internet vai voltar a ser totalmente livre.
A junta militar tenta assim restabelecer a normalidade nas cidades que foram o palco principal das marchas pacíficas pela democracia e que terminaram em violentos confrontos e milhares de detidos.
O povo agradece...
Os generais que comandam o país continuam a afirmar que não morreram mais de nove pessoas, números que o ocidente refuta, alegando que houve centenas de vítimas mortais.
Muitos dos activistas continuam presos e embora o regime esteja a proceder a algumas libertações a conta gotas são muitos os detidos que desapareceram sem deixar rasto. Neste momento o destino de milhares de monges está por apurar e sem a colaboração das autoridades vai ser difícil saber o que lhes aconteceu.
Para os comerciantes a suspensão do recolher é sem dúvida uma boa nova. "Estou muito feliz com o levantamento do recolher obrigatório. Estava realmente a afectar o comércio e o estado de espírito das pessoas", confidenciou um habitante de Rangum à agência AFP.
...o mundo desconfia
Aos olhos das agências humanitárias e de parte da comunidade internacional esta decisão do governo birmanês, embora aparentemente dê mais liberdade ao povo, não é vista com grande optimismo.
Segundo Dana Perino, porta-voz da Casa Branca, esta medida é um "mau sinal", pois a imagem que o governo birmanês tenta dar ao mundo é que os activistas que durante um mês lutaram pela democracia estão devidamente controlados e a vida pode voltar ao normal e à repressão silenciosa de sempre.
Embora os generais tenham dito que estão preparados para se encontrarem com Aung San Suu Kyi, já garantiram que só o farão caso a líder da oposição deixe de apoiar as sanções económicas ao país.
Dentro de algumas semanas será a vez do enviado especial da ONU, Ibrahim Gambari, regressar à Birmânia para novas conversações em prol do restabelecimento da democracia e da liberdade plena no país.