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Covid-19. Idosos quase sozinhos nos lares. “É impossível cumprir o que a ministra pediu”, alertam responsáveis

Lares e cuidados continuados alertam para a falta de funcionários, devido a casos positivos, quarentena ou apoio a filhos. Não há pessoal suficiente para trabalhar “em espelho”, como lhes foi sugerido. Pedem material de proteção com urgência e sugerem que as creches e infantários recebam os filhos dos trabalhadores

Os idosos são o grupo de maior risco nesta epidemia
Ana Baião

Os lares são neste momento um dos maior focos de preocupação dada a vulnerabilidade dos mais idosos ao novo coronavírus. O secretário de Estado da Saúde, António Sales, admitiu essa “preocupação” esta segunda-feira, numa altura em que há, pelo menos, quatro lares no país com casos confirmados. Só que além da escassez de material de proteção, a falta de funcionários devido a casos positivos, ao período de quarentena ou à necessidade de acompanhar os filhos em casa é um dos problemas mais graves com que estas instituições estão a lidar. Recorrer a bolsas de voluntários, como sugeriu o secretário de Estado, “não chega”, dizem os responsáveis do sector.

Num lar em Vila Nova de Famalicão, 33 utentes chegaram a ficar apenas sob responsabilidade da diretora técnica e de uma enfermeira, depois de oito funcionárias terem testado positivo e as restantes dez estarem de quarentena. Entretanto já foram transferidos para o Hospital Militar do Porto. Até agora, conhecem-se pelo menos quatro lares com utentes infetados: dois na região de Lisboa e Vale do Tejo e outros dois no Norte.

Perante a situação de rutura de algumas instituições, o Governo criou uma equipa de acompanhamento permanente aos lares, numa articulação entre a DGS, Proteção Civil e Segurança Social.

Resolver a falta de profissionais é, para já, uma das situações mais urgentes. “Não tenho conhecimento do que são essas bolsas de voluntários. É muito importante que as pessoas se disponibilizem nesta altura, mas é preciso não esquecer que nos lares precisamos de cuidadores formais e profissionais”, afirma Lino Maia, presidente da Confederação Nacional das Instituições de Solidariedade (CNIS).

Também o presidente da Associação Nacional dos Cuidados Continuados (ANCC), José Bourdain, sublinha a importância de ter “profissionais de saúde” nestas instituições e avisa que recorrer a voluntários “não chega” para fazer face às necessidades atuais. “Deveria ser criada uma bolsa de profissionais com o apoio das autarquias, que ajudasse a colmatar as falhas.”

E a escassez de recursos humanos não é de agora, garantem os responsáveis. “Estas instituições já funcionam com um número de pessoal mínimo e este é o maior drama de todos. É impossível cumprir o que a ministra da Saúde pediu, no sentido de ter equipas preparadas para funcionar em espelho para que as pessoas rodem por turnos. Simplesmente não há pessoal de reserva, porque já funcionamos no mínimo”, critica José Bourdain.

A falta de funcionários agrava-se ainda mais porque há quem tenha receio de ir trabalhar, quem esteja a cumprir quarentena ou simplesmente tenha de ficar com os filhos em casa. “Era importante ter creches e infantários que pudessem receber os filhos destes funcionários, como acontece com outros profissionais. Ou então até haver a possibilidade de estes trabalhadores poderem vir a ser requisitados para garantir o devido apoio nos lares”, defende Lino Maia.

A necessidade é de tal ordem que a autarquia e a Santa Casa da Misericórdia de Resende colocaram no Facebook, esta segunda-feira, um apelo a “todos os profissionais de saúde na área da enfermagem” que se possam voluntariar para trabalhar na instituição. O pedido acontece depois de ter sido confirmado um caso positivo de coronavírus numa utente, o que levou a que todos os doentes fossem colocados em isolamento e os 32 funcionários ficassem de quarentena.

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