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Salvador Sobral mostra o seu “Timbre”: é o quarto álbum do músico português

Salvador Sobral, uma das vozes mais singulares da sua geração, continua a aperfeiçoar a veia de compositor, e a prestar homenagem aos artistas e continentes que o inspiram

Aos 33 anos, Salvador Sobral acaba de lançar “Timbre”, o seu quarto álbum, no qual assina a maioria das canções
Adolfo Bueno e Corina Clamens

“Um disco mais luminoso e solar, alegre e celebratório. Quem sabe até tropical” — as palavras são de Salvador Sobral, e referem-se aos planos que, depois do álbum “bpm”, desenhou para o novo “Timbre”. Descontente com o que lhe pareceu ser a densidade excessiva do trabalho de 2021, voltou a reunir-se com Leo Aldrey, seu amigo e companheiro de composição, e escreveu a maioria das canções que acabam de pousar nas lojas e no streaming. O resultado continua a ‘denunciar’ as suas influências, mais próximas do jazz e da world music do que da pop que diz ter aprendido a apreciar, mas contempla vários momentos de uma maior leveza, que poderão levar à concretização de um dos sonhos do autor: “Sinto que o disco é menos denso, e quem sabe se não tem canções que as pessoas possam bailar. Eu gostava muito que as pessoas dançassem.”

À exceção de ‘Se Quando Tu Vieres’, escrita pela sua irmã, Luísa Sobral, e de ‘Les Eaux qui me Gardent’, da sua mulher, Jenna Thiam, todas as canções têm a assinatura de Aldrey & Sobral. A dupla conheceu-se em 2010, quando o português estudava na Escola de Jazz de Barcelona, e desde então tem aperfeiçoado uma parceria de composição nem sempre pacífica. “Conhecemo-nos numa jam session de jazz e pouco depois começámos a compor juntos”, explica Salvador Sobral numa videochamada a partir de Paris, onde reside. “Ao mesmo tempo, fomos criando uma amizade que hoje é uma irmandade. Eu costumo dizer que o Leo é o meu irmão de Caracas.” Como na maioria das relações fraternais, porém, as ‘turras’ são frequentes. “Ao início, chocávamos muito. Nós somos [como] um casal”, ilustra. “Tenho mais disputas com ele do que com a Jenna. Mas fomos aprendendo a respeitar mais o espaço de cada um, e com isso a admiração [mútua] também cresce”, diz, dando um exemplo do seu método de escrita com o venezuelano. “Às vezes ele propõe uma ideia que eu tenho a certeza que não vai funcionar. Respiro fundo, mas ele diz: ‘Não podemos abortar nenhuma ideia até termos experimentado.’ Então experimentamos, e efetivamente às vezes digo: ‘Ah, tem razão, o sacana!’ E o contrário também acontece: na ‘Traição Agradecida’ [do novo álbum], no final da canção eu quis dar uma ideia de liberação total, de se abrir uma janela. Então pensei subir meio tom, o que é forçado. E o Leo disse: ‘Isso vai soar estranhíssimo.’ Mas experimentámos e ficou bem, tem essa sensação de liberdade.”