Entrevista originalmente publicada a 1 de fevereiro de 2014
Foi galã de Hollywood, disputado sex symbol da história do cinema. Ator e realizador de nomeada, é hoje um dos maiores defensores da diversidade no seio da arte cinematográfica, liderando um espaço imprescindível para o aparecimento de obras independentes: os estúdios, o festival e o canal de TV Sundance
Tem um percurso pouco usual, que podemos considerar invejável, pela coerência. Depois de ter sido galã da Meca do cinema e de se transformar, em certa medida, num enfant terrible da sua geração, Robert Redford passou a pugnar pela defesa de um cinema independente, cujos enredos nos coloquem em confronto com a realidade, sem jogos, sem manhas. Fundou um estúdio independente, o Sundance. Depois um festival para poder apresentar e discutir esse tipo de cinema.
Finalmente, um canal de televisão especializado numa programação com ficções e documentários de produção autónoma. Toda essa azáfama não lhe tira o tempo para uma intensa atividade de luta social no campo da preservação da natureza, da defesa das artes e dos artistas e dos direitos dos índios americanos. Um cidadão convicto dos direitos sociais e da urgência da sua defesa.
O que mais o influenciou na decisão de enveredar por uma carreira artística? Na cidadezinha da sua juventude não havia muitas possibilidades culturais. Foi para Paris e só quando regressou aos Estados Unidos é que ingressou na escola de arte dramática...
Houve um momento de transição da ideia de ser pintor para ser ator. Era minha intenção ser artista plástico.Digamos que era artista quando fui para França, tinha entre 18 e 19 anos. Fui para Paris porque queria ser pintor. Estudei em França e fui até Espanha, para uma aldeiazita em Maiorca, após o que decidi ir a Itália, visitar Florença. Durante um ano passeei pela Europa esforçando-me por ser pintor. Quando regressei aos EUA e aterrei em Nova Iorque, um dia entrei por acaso numa escola de representação, sem que tivesse tomado essa atitude seriamente. Então aconteceu algo de extraordinário: um professor olhou para mim e disse-me que era aquilo o que eu devia fazer. Sorri e respondi que não seria nada daquilo. Naqueles tempos, eu ia ao cinema apenas por brincadeira, para fazer macaquices...
Exclusivo
Robert Redford (1936-2025): “Em Hollywood é tudo negócio. Eu acredito que a arte deve ser mais independente”
Em 2014, Robert Redford falou ao “Expresso”. Numa entrevista realizada em Londres, por António Loja Neves, o ator e realizador norte-americano, que morreu esta terça-feira, dia 16, contou que entrou no cinema (quase) por acaso e explicou a razão de ter criado o Festival de Sundance