“São poucos os que sabem da existência de um pequeno cérebro em cada um dos dedos da mão”, disse José Saramago a propósito da obra de David de Almeida, desvendando assim esta verdade bastante ignorada que o pensamento passa pelo corpo todo, absorve o que o cerca, manifesta-se, sai e comunica pela ponta dos dedos. O título desta exposição, citando um verso num poema de Pomar, diz o mesmo dos cinco dedos da mão, tocando “o chão e o corpo” e casando “com a consciência do mundo”.
É dessa mesma consciência ao longo de oito décadas, mais precisamente entre 1946 (tinha Pomar 20 anos) e 2018 (o ano da morte), que trata esta exposição. As obras são as que o pintor conservou “por especial gosto” ou “como obras maiores disponíveis” para eventuais exposições (Alexandre Pomar), pelo que a escolha delas é ainda de Júlio Pomar, permitindo-nos ver a continuidade, a mudança, bem como a singularidade levada à surpresa mesmo no interior do seu trabalho, aproveitando bem o espaço misto de loja de antiguidades e galeria da São Roque.