Exclusivo

Artes Plásticas

A tradição faz o Japão? 1500 peças e 480 anos de amizade luso-japonesa no Museu do Oriente

Trata-se de uma viagem pelos principais rituais do Japão, preservados ao longo de gerações. “Japão: Festas e Rituais” está patente no Museu do Oriente, em Lisboa, até 31 de dezembro de 2024

Daruma, boneco geralmente de madeira que representa Bodidarma, o monge que fundou o budismo zen na China
Ines Duque

Subimos as escadas de um santuário xintoísta, onde um pórtico tradicional japonês, de nome torii, nos relembra que estamos a transitar do mundano para o sagrado. Emoldura um ecrã onde se vê um episódio cosmogónico do Japão, que surge nos livros sagrados do xintoísmo: é uma animação em vídeo sobre Amaterasu, deusa do sol, associada à origem do Japão e da linhagem imperial japonesa. Reza a história que, a dada altura, esta divindade se desentendeu com o irmão e se fechou numa gruta, deixando o mundo na escuridão. Só quando outras divindades organizam uma festa — e uma deusa faz aquele que é considerado “o primeiro striptease da história” — a deusa do sol, curiosa, sai para espreitar. Dessa forma, libertam-se novamente os seus raios (e outra divindade fecha a porta da gruta com uma pedra para que Amaterasu não possa voltar a entrar). “Foi à conta da festividade e do ritual, daquela cerimónia, que veio a fertilidade ao Japão”, diz ao Expresso Sofia Campos Lopes, diretora-adjunta do Museu do Oriente, em Lisboa, e responsável pela exposição “Japão: Festas e Rituais”. “O princípio é agradar aos deuses para se ter uma vida próspera.”

Partindo dos princípios do xintoísmo (“o caminho dos espíritos”, ou kami) e do budismo no Japão, esta exposição que se inaugurou no Dia Internacional dos Museus — enquadrada nas comemorações dos 480 anos de amizade entre Portugal e o Japão — revisita algumas das celebrações anuais japonesas, o seu papel na sociedade, na forma de conceber o mundo, o lugar do indivíduo e a sua relação com a comunidade. Apresentando festas e práticas celebradas tanto em santuários como em templos ou até no espaço doméstico, em comunidades rurais mas também nas metrópoles, mostra a importância que o ritual tem enquanto rede de sustentabilidade humana. E põe o foco numa sociedade onde é possível partilhar diferentes espiritualidades e filosofias de vida.