https://leitor.expresso.pt/semanario/semanario2673-1/html/revista-e/culturas/livros/memorias-de-odessa“Dançar em Odessa” (2004) e “Deaf Republic” (2019) fizeram de Ilya Kaminsky (n. 1977), nascido em Odessa, mas cidadão americano desde 1993, um dos mais estimulantes poetas da actualidade. O primeiro desses livros é dedicado à família, a biológica e a espiritual, bem como ao tema da memória, lírica e às vezes violenta. Kaminsky quer “falar em nome dos mortos”, lembrando o bom, o mau e o incerto: “Pois tudo o que digo// é uma espécie de súplica, e os mais negros/ dias devo louvar.” Não se trata de louvar os dias bons e lamentar os maus, mas de louvar até os maus, notando as semelhanças entre o louvor e o lamento. A “cidade com o nome de Odisseu” aparece aqui com traços míticos, caóticos e tragicómicos: multidões em eléctricos, aves ominosas, velhos patuscos, póneis na varanda; a tia Rose “de uniforme militar, de socas de madeira”, que “dançava/ a cada final do dia”, presume-se que por estar ainda viva; os avós que “combateram/ em tractores contra tanques alemães”, a cidade tremia como um navio-fantasma, “acordei a murmurar: sim, vivíamos”.
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