O décimo oitavo livro de ficção de Paul Auster é sobre membros-fantasmas, aquela sensação que alguns amputados têm de que ainda sentem o braço ou a perna: assim está Baumgartner, viúvo, reformado, tentando ocupar a velhice com expectativas, compromissos, decisões.
Depois de dois volumes invulgarmente extensos, um romance duvidoso sobre vidas paralelas, “4 3 2 1” (2017), e um vibrante ensaio biográfico sobre Stephen Crane, “Um Homem em Chamas” (2021), Auster regressa ao formato breve. Sendo que “Baumgartner” é, por outros motivos, demasiado longo, e funcionaria melhor como uma vinheta à John Cheever, até porque se trata, mais do que de uma história, de uma situação: “(…) os vivos e os mortos estão ligados, (…) mas quando o vivo também morre é o fim e a consciência do morto extingue-se para sempre”.