As elegias fúnebres e os obituários publicados desde ontem à noite, quando foi conhecida a notícia da morte de David Lynch, assinalam de forma unânime “uma grande perda para o cinema.” E devem fazê-lo, que David Lynch tem desde há muito, muito tempo um lugar reservado no panteão dos grandes cineastas do século XX – mas não foi agora, aos 78 anos, que o cinema o perdeu; nem o culpado é o enfisema pulmonar que o matou, causado, muito provavelmente, pelas centenas de milhares de cigarros fumados desde os 8 anos de idade, quando o vício do tabaco começou.
O cinema perdeu David Lynch há duas décadas, quando o norte-americano se incompatibilizou com uma “indústria obcecada pelo lucro e a morte do cinema de vanguarda”. Ou talvez tenha sido ao contrário: “Com o cinema alternativo não há qualquer hipótese em conseguir salas de cinema que mostrem o teu filme. Mesmo que tenha uma grande ideia, o mundo agora é diferente. Infelizmente, as minhas ideias não são propriamente comerciais, e por estes dias é o dinheiro que comanda a vida”, disse em 2013.
É tarefa da mais ingrata índole escolher cinco filmes da carreira de David Lynch, realizador de dez longas de alto calibre, entre 1977 e 2006. Pois vale então um roda bota-fora e o primeiro a ficar de fora é “Inland Empire” (2006), de uma fase tardia da carreira que acentuaria o tal virar de costas a Hollywood.