Depois de, em 1999, os timorenses terem votado a favor da independência da Indonésia, Maria Madeira regressou a Timor-Leste, a sua terra natal. Acabaria por juntar-se como tradutora ao irmão, que trabalhava como intérprete na unidade de crimes graves das Nações Unidas. Em 2002 viveu vários meses num quarto com as paredes marcadas por manchas de batom, à altura dos joelhos. Entre 1975 e 1999, período da ocupação indonésia de Timor-Leste, as mulheres timorenses eram obrigadas a usar batom, a ajoelhar-se a beijar as paredes. Estava ali, à sua frente, dia após dia, uma das marcas das atrocidades cometidas contra as mulheres timorenses pelos militares indonésios.
Foi assim, e em honra destas mulheres, que a Maria Madeira sentiu a necessidade de contar estas histórias, “para sensibilizar as gerações vindouras”. “Os homens lutaram e nós estamos-lhes eternamente gratos”, realça a artista timorense no catálogo que acompanha a sua intervenção para a estreia de Timor-Leste na Bienal de Veneza, que decorre até ao dia 24 de novembro. “Para que não nos esqueçamos: as mulheres também lutaram. E estamos eternamente gratos. Porque os homens lutaram com as suas armas, mas as mulheres lutaram com os seus corpos.”