Um polícia reformado envolvido na detenção, há 20 anos, do marido da Nobel da Literatura Alice Munro por abusar sexualmente da enteada, recordou ter ficado perturbado com a reação da escritora, que acusou a filha de mentir. Numa entrevista à Associated Press (AP), Sam Lazarevich disse que Munro ficou furiosa, defendeu o seu segundo marido e lembra-se de ter ficado "bastante surpreendido" com esta reação. "É a sua filha. Não vai defender a sua filha?", recordou ter-lhe perguntado.
Num ensaio publicado no domingo passado no jornal canadiano ‘Toronto Star’, a filha de Alice Munro denunciou que foi abusada sexualmente pelo padrasto na infância e que a mãe ficou com ele, mesmo depois de saber dos crimes cometidos pelo marido. A revelação do segredo há muito guardado foi feita por Andrea Robin Skinner, filha de Alice Munro, dois meses após a morte da escritora.
Segundo Andrea Robin Skinner, o padrasto, o geógrafo Gerald Fremlin, começou a abusar sexualmente dela a partir de 1976, quando ela tinha 9 anos e ele 52. Aos 80 anos, Fremlin declarou-se culpado da acusação de atentado ao pudor e recebeu uma pena suspensa. A notícia do ‘Toronto Star’ surpreendeu e entristeceu o mundo literário.
Em consequência, a Western University anunciou na sexta-feira que suspendeu o programa de cátedra que tem o nome de Alice Munro. "Neste momento, suspendemos (...) enquanto consideramos cuidadosamente o legado de Munro e os seus laços com a Western", lê-se numa breve declaração publicada na página da internet da instituição de ensino superior.
Alice Munro era uma fonte de orgulho para o seu país natal, o Canadá, onde está a ser feita uma análise ao legado da autora. "É óbvio que isto mancha o seu legado", considerou o detetive Lazarevich.