Um livro era um objeto indesejável. Esse maço de folhas com capa que algumas pessoas teimavam em produzir. Antes do 25 de Abril, se o regime discordasse do conteúdo – e demasiadas vezes discordava –, puxava do censor, que afadigava o lápis azul, ou apreendia simplesmente a obra. Apetece lembrar o que um ministro da Educação do Estado Novo disse sobre um dos grandes compositores portugueses, Fernando Lopes-Graça, que viu cassado o seu diploma de professor e vivia vigiado pela PIDE: um simples mi bemol dele era “um perigo maior que mil panfletos subversivos”.