Um mês depois de o Ministério da Cultura ter assumido que uma “falha lamentável dos serviços” permitira que a obra-prima “Descida da Cruz” (1827), de Domingos Sequeira, saísse do país para ser vendida no mercado internacional e de ter fixado como objetivo prioritário encetar negociações com o proprietário da pintura para tentar mantê-la no território nacional, ainda não há quaisquer resultados concretos a apresentar.
O Expresso questionou a Museus e Monumentos de Portugal (MMP) - instituição que desde 1 de janeiro substituiu a Direção-Geral do Património Cultural e que foi mandatada pelo ministro da Cultura para desenvolver as negociações para uma eventual aquisição da pintura - e a resposta foi de que “não existe, de momento, informação nova a partilhar sobre o processo negocial em curso”.
“Tal como reiterado recentemente pelo Ministro da Cultura, a Museus e Monumentos de Portugal, através da Comissão para Aquisição de Obras de Arte para os Museus e Palácios Nacionais, estabeleceu contactos com os proprietários e com a galeria onde se encontra depositada a obra ‘Descida da Cruz’, no sentido de aferir as condições para a sua eventual aquisição, em nome do Estado português, e tendo em perspetiva a subsequente incorporação nas coleções nacionais”, explica o porta-voz da instituição liderada por Pedro Sobrado.
Além da “Descida da Cruz”, existem ainda duas outras pinturas de Domingos Sequeira - “Juízo Final” e “Ascensão” - que Pedro Adão e Silva e a secretária de Estado da Cultura, Isabel Cordeiro, assumiram querer adquirir para o património nacional. Mas, numa nota escrita, a MMP acrescenta que “mantém igualmente contacto com os proprietários das outras duas obras que integram o conjunto de quatro obras que Domingos Sequeira executou em Roma no final da vida de forma a auscultar o eventual interesse e condições para a aquisição das obras.”
Nesta sexta-feira será inaugurada a TEFAF, a maior feira de obras de arte e antiguidades do mundo, onde a “Descida da Cruz” está exposta, no stand da galeria espanhola Colnaghi, mandatada por Alexandre de Sousa Holstein, proprietário da obra-prima, para uma eventual venda. No formulário da comunicação de expedição da pintura para fora do país, apresentado em novembro na agora extinta Direção-Geral do Património Cultural, o valor atribuído à obra foi de 1,2 milhões de euros, embora o único valor efetivamente atribuído a outra obra do mesmo autor tenha sido de cerca de 600 mil euros, quando, em 2016, o Museu Nacional de Arte Antiga adquiriu a “Adoração dos Magos” através de uma grande campanha de subscrição pública, com o apoio também de mecenas.
A Comissão para Aquisição de Obras de Arte para os Museus e Palácios Nacionais terá, contudo, 380 mil euros que transitaram de 2023 para este ano para realizar novas aquisições, segundo foi noticiado esta semana pelo jornal “Público”. No ano passado, a verba disponível para aquisições foi de dois milhões de euros e não se conhece ainda que valor foi atribuído para este tipo de aquisições em 2024, mas, tendo em conta, os valores atribuídos às pinturas de Domingos Sequeira, não será simples ter verba para comprar a “Descida da Cruz”, o “Juízo Final” e a "Ascensão.